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Mostrando postagens de 2008

O Velho e o Mar

Não se preocupe, esta não é uma análise enfadonha sobre o clássico de Hemmingway . Mesmo porque eu não o li, e mesmo que tivesse, não tenho condições de analisar clássicos. É só que estou sentado na beira da praia, e tem um velho, e tem o mar. O velho, com todo um aparato de pesca montado e um chapéu de quem espera um sol daqueles, fala com as mãos para quem parece ser sua companheira. Vamos chamá-la de Lurdes. Ela se parece o suficiente com uma Lurdes. Peixe não se vê, mas quem foi que disse que pescaria tem a ver com peixes? Me fez bem imaginar que o velho teve uma vida plena até aqui. Criou seus filhos com amor e dedicação, trabalhou com prazer no que gostasse e tem a admiração da Dona Lurdes. Agora, depois de planejá -la por anos, veio curtir a aposentadoria na beira-mar, tentando pescar os peixes que o mar não quer lhe entregar. Ele parece achar graça no fato de que a vida lhe foi bem mais generosa do que o mar está sendo. Agora a Lurdinha (já somos íntimos a esta altura),

Eternidade? Tô fora!

O homem, naquele sentido que engloba também as mulheres e crianças, tem a necessidade interessante de deixar um legado. Algo que dure mais do que ele. Pelo menos um pouco mais. Não sei se é nossa maneira desengonçada de tentar alcançar a eternidade, ou o desespero que bate quando não conseguimos lembrar o nome de nossos bisavós , mas está embutido em nosso software deixar marcas para que se lembrem sempre de que um dia existimos. É claro que para este propósito recebemos as ferramentas e a habilidade (nem todos) para fazer filhos, mas estes farão os seus e quando estes fizerem também os seus, estes últimos não terão a menor ideia de quem você foi. E não adianta espernear, mesmo porque o caixão é um tanto apertado e dificilmente alguém vai ouvir. O segredo é construir algo digno de nota, que de fato transcenda as barreiras da família. Aparentemente o grande público, esta entidade que ninguém sabe definir direito, é bem mais propenso a garantir tua eternidade do que aqueles bisnetos

Bate-papo de Natal

Cara, falta muito pouco agora. Já estamos quase no Natal e em uns 2 meses você deve nascer. Teu quarto já está pronto e tuas roupas, você nem acredita. Você já tem camiseta de bandas que você nem conhece, mas com certeza vai gostar. Tua mãe está mais linda do que nunca e teus avós, bom você vai ver quando chegar. É inexplicável. Teu chá, que teve de tudo menos chá, foi um barato. Você ganhou presente pra caramba e já tem pelo menos o dobro de sapatos do que eu. Outro dia fomos dar uma espiada em você lá na clínica daquela médica simpática. Desta vez conseguimos te ver bem e tudo indica que, graças aos céus, você parece mais com tua mãe do que comigo. Vamos ver, estou de dedos cruzados. Enquanto escrevo aqui na sacada da pousada em Bombinhas , vejo tua mãe na areia, te carregando feliz da vida com seu barrigão lindo. É você que já deve estar louco para fazer castelos e enterrar teu pai na areia, como as outras crianças que estão por ali. Não se preocupe querido, em breve será a nossa v

Marcos Teixeira Excel

Se fossemos todos filhos de Bill Gates, o homem seria Excel e a mulher Word . Os mais exibidos seriam Power Point , as crianças Paint Brush . Os profissionais seriam Access ou até mesmo o Excel , mas com macros e tabelas dinâmicas. Poderiam também ser Project , dependendo da área de atuação . Os jovens conectados seriam Messenger ou Outlook e os alternativos, Creative Writer , Liquid Motion ou outro qualquer que ninguém conheça. Os gananciosos seriam o MS Money , os organizados e os quadrados, o Visio . Os mais relax , ou com tempo de sobra, seriam Flight Simulator ou Age of Empires , poderiam até mesmo ser mais simples, como Pinball ou FreeCell . Os intelectuais, sem dúvida alguma, Encarta . Os mais introspectivos e solitários, Solitaire , porque ser introspectivo e solitário não significa ser original. E os revoltados, está obvio , seriam Linux , Mac OS ou Open Office , só para irritar papai Gates. Ou Google alguma coisa, se quisessem enfartá-lo de vez.

Coxinha

Estava no café tomando limonada suíça e reparando o movimento. Era a primeira terça-feira do horário de verão, quase oito e o sol ainda insistia em ficar. O lugar estava cheio daquelas pessoas esquisitas que frequentam os cafés da moda, todas cuidadosamente fora de moda. Na mesa do canto, três meninas, das de vestibular, falando de meninos. Do outro lado três rapazes de cabelos meticulosamente despenteados, falando de meninos. Senhoras chiques , que acham chique ficar em lugares cheios de gente esquisita falavam alto em seus i- phones na mesa do outro canto. Na rua passava gente de todo tipo. Cuidadores de carros, figurões de terno, estudantes que não estavam estudando, catadores de papel, mulheres bonitas, carros do ano, fuscas e cachorros, dos de rua e dos de madama, levando suas respectivas. Além da limonada suíça, quis comer uma quiche . Não tinham. A moda agora é coxinha.

Rick

Em casa novamente. Eu gosto de estar aqui quando posso. Hoje vim pensando em escrever sobre a morte de Richard Wright , homem dos teclados do Pink Floyd . Morreu jovem (tinha apenas 65 anos) e em quieto desespero, na luta contra um câncer não anunciado. Pensei em fazer uma homenagem, dessas que são feitas na tristeza do momento, emocionadas e geralmente exageradas, mas desisti. É mais divertido especular e fica menos forçado. Afinal, onde estará Rick neste momento? Os mais apressados poderiam dizer que está junto com Syd Barret em algum canto psicodélico do lado escuro da lua, mas Rick era completamente diferente de Syd . Outros arriscariam que ele está no paraíso, tocando The Great Gig in The Sky , finalmente no lugar certo. Eu diria que não deve ser nada tão óbvio. Ídolos não fazem coisas óbvias e geralmente não acabam no paraíso. Imagino que, esteja onde estiver, respira finalmente o ar puro de não ser mais inglês, sem medo de se importar. O tempo passou devagar para

A encomenda

Sem pensar três vezes, Jonas clicou o botão comprar. Não era pouco dinheiro para ele, mas valeria cada centavo. Como ele esperou por esse momento. A encomenda viria da Inglaterra e tinha o risco de parar na Receita. Demoraria semanas até chegar. Jonas era paciente. Quarenta e sete dias depois, o pacote estava na portaria. Jonas perguntava todos os dias para o porteiro, desde o dia seguinte da compra. Desta vez, antes de desligar o carro na garagem do subsolo, o porteiro já vinha correndo com o pacote na mão. Jonas ficou tão feliz que tascou um beijo na bochecha gordurosa do velho. Arrependeu-se na hora, mas estava tão animado que logo esqueceu. Jonas preparou a mesa da sala, derramou um pouco de uísque em um copo de requeijão com três pedras de gelo e sentou-se em frente ao pacote. Encarou a encomenda por um longo tempo, enquanto bebia seu veneno. Sabia que aquele era o melhor momento, segundos antes de começar a luta contra o embrulho para recuperar lá de dentro seu objeto de de

O mundo que você vai ver quando chegar

Meu filho, finalmente nos conhecemos. Você não sabe como foi difícil esperar estas seis semanas. Desde o último exame você cresceu bastante e agora que já sei teu sexo, posso te chamar de meu filho. Antes era só um feijãozinho, um carocinho de nada. O mais lindo que eu já vi, mas difícil de imaginar. Agora te conheci de verdade, te vi abrir a boca e dar saltos no ventre da tua mãe. Tudo reflexo, a doutora falou, mas o que é que ela entende afinal? Reflexo nada, você sabia que eu estava te vendo e já fez a primeira exibição pro teu velho aqui. Abriu as pernocas para não deixar dúvidas, já sabe que o velho é ansioso e não iria me deixar na curiosidade mais um tempo né? Tá bom, eu nem sou tão velho assim, mas você nem nasceu ainda, imagine. Aliás, não vejo a hora de você chegar. As coisas não são tão fáceis assim por aqui, ainda mais comparando com teu lar atual, mas vale a pena, você vai ver. E além do mais eu estou aqui para te ajudar em tudo o que você precisar, mas não abuse viu? Não

Knocking on the HEAVEN'S door

Morreu por culpa do cigarro. Foi para cama bêbado com o cigarro aceso entre os dedos e com o colchão em chamas bateu as botas, que no caso eram Nikes pretos. Quando chegou ao céu ainda não tinha se dado conta do que houvera. O porteiro, um anjo iniciante recém promovido, aproveitou para tirar um sarrinho. Afinal, o povo do céu também tem senso de humor. Pegou uma ficha azul improvisada e perguntou: - Nome e telefone, por favor. - João Alceu. 3226-XXXX – preservamos aqui a privacidade de João. - Bem vindo seu João! São 20 reais de consumação – e começou a revistar o recém-tostado. - É sua primeira vez aqui na casa? – continuou o anfitrião. - Hum... Para falar a verdade, nem sei onde estou, nem como vim parar aqui. Estou meio alto, sabe? - Não tem problema, vamos ter que fazer um cadastro rápido – riu sozinho pois o conceito de velocidade no céu fica distorcido com a premissa da eternidade. - Afinal, não estou vendo nenhuma placa por aqui, como é o nome desse lugar? - H

O que meu filho não vai ter

Meu filho não vai ter um pai que salva vidas como eu tenho. Nem vai ter um pai que conhece mais gente da idade dele do que ele próprio, e periga ser mais amigo dos amigos dele do que ele. O pai do meu filho dificilmente vai ter paciência de levar sanduíches e coca-cola nos intervalos da gravação do CD da bandinha de garagem que ele montar, como o avô dele fez, mesmo não sendo um grande fã de música, especialmente aquela que fazíamos. Tenho certeza que se meu filho chegar bêbado em casa, cinco da madrugada, não vai ser recebido com o café da manhã na mesa, e com certeza apanha se vomitar no meu pé ao invés de receber um sorriso acolhedor como meus irmãos e eu recebíamos. Meu filho não vai ter um pai que acerta a colocação dele no vestibular, antes de qualquer resultado oficial, fazendo cálculos e mais cálculos estatísticos que ainda nem inventaram. Meu filho não vai ter um pai cujo maior prazer da vida é trancar a casa com todos dentro no final do dia, para sentir que a família ainda

Walda

Walda era moça doce à primeira vista, mas que com o tempo, quando se conhecia melhor, era ardida e grudenta. Pobre do homem que cedia aos seus encantos sem maiores cuidados. Foi o caso de Júlio, que começou a namorar Walda em Agosto e a largou em Setembro. O caso se deu da seguinte maneira. Se encontraram numa destas casas de shows, onde tocava uma banda de pagode iniciante, com nome engraçado e talento duvidoso. Júlio, como sempre, estava encostado no balcão, fazendo calo no cotovelo enquanto tomava seu quinto gim com soda. Walda dançava com as amigas, escondida na fumaça de gelo seco que saia do palco onde a Jeito Malaco - acho que era esse o nome infame - tocava sua quinta música, que parecia muito com a primeira, a segunda, e todas as outras. Walda era linda e estava bem vestida, um mulherão que Júlio não podia nem sonhar em ter. Mas quem disse que a lógica interfere no mundo dos sonhos. Júlio olhava para Walda como um cachorro olha para o frango que gira na padaria. E Walda girava

Veranico de Maio

Para os que adoram o verão, existe uma última esperança antes do inverno chegar, o famoso veranico de maio. Poucos dias de sol e calor no final do mês, que fazem lembrar o verão que semanas antes chegara ao seu final. Apesar das condições climáticas quase idênticas, estes dias podem ser verdadeiramente incômodos para alguns, principalmente os mais nostálgicos, pois só fazem lembrar como estava bom o verão, e que aquela ilusão logo acabaria e o inverno em breve chega, forte e incontestável. Ontem, no meio dos meus 33 anos de idade, apareceu uma espinha no meio da minha cara. A reação normal seria tratá-la imediatamente para evitar ser confundido com um chokito envelhecido, mas fiz exatamente o contrário. Tenho cuidado dela com o maior carinho, fazendo o possível para que ela dure o máximo possível. É meu último suspiro de juventude. É minha espinhica dos 33, anunciando o fim da adolescência, algum tempo depois de ela já ter acabado. Ela está para a adolescência assim como o verani

Feiosa

Enxergo grandeza onde não existe. Acredito na importância do que não é. Exagero nas reações . Sou assim desde pequeno, notadamente no campo turístico. Quando tinha uns 8 ou 9 anos, fui com meus pais e irmãos para Foz do Iguaçu . Além de conhecer as cataratas, tínhamos a intenção de fazer algumas compras no Paraguai, que naquela época de economia fechada era ainda mais atraente. Era minha primeira viagem “internacional” e eu estava emocionado. A viagem durara horas e ainda estávamos em Cascavel, cidade do interior do Paraná que fica a mais ou menos uma hora de Foz do Iguaçu , fronteira com Ciudad del Este. Meu pai ligou o rádio e sintonizou uma estação paraguaia. Segundo relato dos meus pais, quando a música que tocava terminou e o locutor começou a falar em castelhano, eu chorava de emoção e gritava “ Assunción , Assunción ”. Anos mais tarde, na minha primeira viagem internacional de verdade, fui para um congresso na França. Depois de uma semana passeando em Nice, onde teoricame

Elliot

Meu pequeno cão tem nome, olho e latido de roqueiro. Atende por Ozzy,tem uma máscara preta tipo as do pessoal do Kiss e grita feito o Iggy Pop. Mas foi de outra celebridade que lembrei quando comecei a tossir. Com menos drama e fantasia do que no filme que fez de Steven Spielberg quem ele é hoje, o Ozzy é meu E.T. Sempre morei em apartamento, nunca gostei de pescar, caçar, subir em árvore, andar a cavalo ou de qualquer outra atividade campestre. Nunca tive qualquer tipo de bicho de estimação, e achava que tratar cachorro como gente era o fim da picada. Bom, tudo isso até que meu pequeno E.T. aparecesse. Confesso envergonhado que vejo ele fazer coisas dignas de uma pessoa com bom nível de inteligência, converso com ele como conversaria com meu melhor amigo e me emociono com qualquer latido diferente. Outro dia me peguei tentando ensiná-lo a cantar como Mademoseille Nobs, a cachorrinha blueseira do vídeo do Pink Floyd. Se ela pode, por que meu Ozzão não poderia? Ainda bebezão, com a cheg

Carta aos confusos

Eu estou a aproximadamente uns 10.000 metros de altura, voltando de mais uma viagem de tabalho. Estou cansado e sob o leve efeito de meio copo de plástico de vinho tinto francês vagabundo, servido com o micro jantar do avião. Por sorte estou sozinho em dois bancos, o que me dá espaço e privacidade para escrever. Já estava me preparando para encostar e tentar dormir quando resolvi embalar o sono com música. Têm 3 coisas que não podem acabar no meio de um vôo longo, a bateria do i-pod, a bateria do notebook e o livro que você está lendo. Bom, há uma quarta é claro, a gasolina do avião, mas nessa não vou me deter agora. Procurando o som ideal para dormir, quase já parando no meu mais novo melhor amigo de viagens, Bob Dylan, percebi que as 4 músicas novas do Confusion estavam no aparelhinho. Já as havia escutado uma vez em casa e gostado bastante, mas agora foi diferente. Não é o vinho, nem o sono, nem o fato de serem meus grandes amigos e muito menos de eu ter participado de alguns anos

Grandes Questionamentos

Grandes questionamentos acerca da vida moderna de hoje-em-dia neste mundo globalizado onde a velocidade das mudanças alcança níveis nunca antes imagináveis, da exceção se faz a regra, se fuma menos e se corre mais Será que o carro elétrico será bivolt? Se não for, como é que eu vou fazer para ir a Santa Catarina? Já é difícil ter que carregar o transformador do secador de cabelos de minha mulher, imagina o do carro. Me resta torcer pelo bom senso dos engenheiros, ou seja, tô lascado! Quando um fotógrafo profissional entra em ação em festas de casamento e formaturas, geralmente tira mais de uma foto como garantia. Garantia de que? Se tira a foto do povo na mesma posição, com a mesma luz e o mesmo fundo, qual a vantagem? Na era da fotografia em filme até dava para entender, mas com a tecnologia digital fica difícil. Se o cartão de memória pifar, dificilmente (para não dizer impossivelmente) alguma foto se salva. Se manteiga fazia mal e margarina era a solução, como é que hoje é o c

Memórias da barriga

Não sou compulsivo com comida, mas desde sempre uma das coisas que mas me deixa irritado é estar com fome. Se tenho uma reunião de trabalho que começa ao meio-dia, tenho que comer alguma coisa antes para conseguir me concentrar no assunto. Se vou jantar fora e a comida começa a demorar, começo a olhar para os lados e perder a paciência. Acho que é mais uma herança de família. Quando minha avó paterna era viva e íamos almoçar na casa dela aos domingos, invariavelmente as crianças estavam com fome muito antes do almoço ficar pronto. Minha avó, que não conseguia ver os netos descontentes, improvisava um pão francês com margarina e açúcar que, se no conceito parece terrível, na prática salvava nossas vidas, e principalmente a dos adultos, que não precisavam ficar aguentando choradeira. Esta receita é uma das primeiras das quais me lembro com muito carinho. Nunca tive coragem de experimentar depois de adulto, para não estragar a boa lembrança. Já cometi este erro ao assistir à versão origin

Uma carreira brilhante

Apagou o cigarro de cravo no cinzeiro do corredor. Era coisa de moleque fumar cigarro de cravo. No corredor da empresa onde fazia estágio era no mínimo de mau gosto. Desceu as escadas para o andar térreo, onde ficavam a maioria de seus colegas, que já o esperavam para o almoço. Odiava o almoço, estava acostumado com a comida da mãe. Também não gostava muito dos colegas, achava todos um saco. Tinha um futuro promissor. De poucos amigos e provavelmente infeliz, mas promissor. Lá pelas tantas resolveu que sua opinião sobre a economia do país seria relevante. Despejou uma série de chavões, colecionados nos jornais e revistas que lia, e dos noticiários aos quais assistia. A maioria de suas opiniões eram contraditórias, às vezes até preconceituosas e ultrapassadas. Era sempre aplaudido, mais por medo do que por respeito. Sabiam que tinham seu futuro presidente diante de si. Para alguns era triste imaginar o seu destino, liderados por este homem. O tempo passava e ele ia ganhando confiança, e

Vôo solo

Somente depois de várias horas conseguiu relaxar completamente. Não era a primeira vez em Paris, mas desta vez as coisas seriam diferentes. Sabia que tinha que fazer o check-in no hotel e sair correndo. Não havia muito tempo para descansar, e nem queria, tinha que resolver a situação de uma vez por todas. Esperara sete anos por esta oportunidade. Pegou o mapa do metrô na recepção do hotel e viu que era exatamente o mesmo mapa de sete anos atrás. Desenhou mentalmente a rota e saiu correndo. Estava sujo, sem dormir e com a dor de cabeça que sempre tinha quando bebia no avião, não importava, sua missão era mais importante. Subiu correndo as escadas da estação Cambronne, desceu na Trocadero, correu para pegar o segundo trem, passou vergonha quando teve que pular para dentro enquanto a porta fechava. Fez cara de turista bobo para não deixar dúvidas e sentou no banquinho retrátil da porta traseira do vagão. Esta segunda perna da viagem era bem mais longa, com umas oito ou nove estações

Passeio

Saíram os três para um passeio vespertino à beira-mar. Se conheciam desde pequenos e tinham uma amizade daquelas que duram todo o verão. Foram longe conversando sobre os planos para o novo ano. Que cursos fariam, que amores esqueceriam e quanto dinheiro deixariam de guardar com as bebedeiras, as viagens e outras atividades de igual importância. Já iam longe e tinham resolvido quase todos os problemas do ano que começava quando Marcelo, o mais velho, falou de como sentia-se bem na companhia dos outros dois e levou uma vaia. Era permitido sentir-se bem, mas não precisava falar sobre isso, era óbvio e estragava o momento. Marcelo sempre falava demais. Rose era a mais nova, e a única mulher. Marcelo e Carlos cuidavam dela como irmã, coisa que ela adorava, quase sempre. Era geniosa e de longe a mais inteligente dos três. Também a mais boêmia e promíscua, para desespero dos outros dois. Ficava com um cara diferente a cada noite, não antes de judiar bastante do pobre coitado e, é claro, de Ma