Não se preocupe, esta não é uma análise enfadonha sobre o clássico de Hemmingway. Mesmo porque eu não o li, e mesmo que tivesse, não tenho condições de analisar clássicos.
É só que estou sentado na beira da praia, e tem um velho, e tem o mar. O velho, com todo um aparato de pesca montado e um chapéu de quem espera um sol daqueles, fala com as mãos para quem parece ser sua companheira. Vamos chamá-la de Lurdes. Ela se parece o suficiente com uma Lurdes. Peixe não se vê, mas quem foi que disse que pescaria tem a ver com peixes?
Me fez bem imaginar que o velho teve uma vida plena até aqui. Criou seus filhos com amor e dedicação, trabalhou com prazer no que gostasse e tem a admiração da Dona Lurdes. Agora, depois de planejá-la por anos, veio curtir a aposentadoria na beira-mar, tentando pescar os peixes que o mar não quer lhe entregar. Ele parece achar graça no fato de que a vida lhe foi bem mais generosa do que o mar está sendo.
Agora a Lurdinha (já somos íntimos a esta altura), que havia saído há pouco para uma breve caminhada, chega e lhe dá um beijo no rosto. Ele começa a pensar que vale mais a pena voltar com ela para casa e tomar o café-da-manhã. Neste exato momento, um peixe dos grandes namorava a isca presa ao anzol especial do velho, que ele comprou em uma das viagens de trabalho aos Estados Unidos. Antes que o escamoso animal abocanhasse sua refeição fatal, nosso personagem (não consegui imaginar nome bom para este bom velho) começou a recolher a linha. O peixe, que já não entende muito, ficou sem entender nada. O mar, menos ainda. Finalmente se entregaria ao merecedor amigo. Este, nosso já clássico personagem, não tinha dúvidas. Entre o mar, os peixes e as rabanadas da Lurdinha, ficava com as últimas sem pestanejar. E isso era todo dia.
Comentários