Cara, falta muito pouco agora. Já estamos quase no Natal e em uns 2 meses você deve nascer. Teu quarto já está pronto e tuas roupas, você nem acredita. Você já tem camiseta de bandas que você nem conhece, mas com certeza vai gostar. Tua mãe está mais linda do que nunca e teus avós, bom você vai ver quando chegar. É inexplicável. Teu chá, que teve de tudo menos chá, foi um barato. Você ganhou presente pra caramba e já tem pelo menos o dobro de sapatos do que eu. Outro dia fomos dar uma espiada em você lá na clínica daquela médica simpática. Desta vez conseguimos te ver bem e tudo indica que, graças aos céus, você parece mais com tua mãe do que comigo. Vamos ver, estou de dedos cruzados. Enquanto escrevo aqui na sacada da pousada em Bombinhas, vejo tua mãe na areia, te carregando feliz da vida com seu barrigão lindo. É você que já deve estar louco para fazer castelos e enterrar teu pai na areia, como as outras crianças que estão por ali. Não se preocupe querido, em breve será a nossa vez.
Tudo é velho agora. Eu tenho rolhas de vinhos que tomei esses dias, datadas de 15 anos atrás. Livros de 2006 que ainda não li, datados também, com meu nome em cima. Tenho filhos grandes, alguns empregos no currículo, lembranças que se confundem. E me confundem. Acho que datados não são os livros, ou as rolhas de vinho. Datado sou eu. Mas não me sinto assim, o que provavelmente é bom. Ou talvez patético. Fiz uma tatuagem nova outro dia. A tatuagem é nova, os temas antigos. Bandas que gosto há mais de 30 anos, um livro que escrevi há mais de 10. Tudo é velho agora. Os souvenires, os quadros, os móveis e principalmente os uísques. Os uísques são muito velhos, mas já foi-se o tempo em que todos eram mais velhos que eu. Hoje em dia nem todos, só os melhores. Talvez esse seja o segredo, ficar datado como os melhores uísques, não como os piores discos. Envelhecer, sei lá, mais como um Macallan do que como o Momentary Lapse of Reason. Falando em Momentary Lapse o Reason, o Pink Floyd
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