Cara, falta muito pouco agora. Já estamos quase no Natal e em uns 2 meses você deve nascer. Teu quarto já está pronto e tuas roupas, você nem acredita. Você já tem camiseta de bandas que você nem conhece, mas com certeza vai gostar. Tua mãe está mais linda do que nunca e teus avós, bom você vai ver quando chegar. É inexplicável. Teu chá, que teve de tudo menos chá, foi um barato. Você ganhou presente pra caramba e já tem pelo menos o dobro de sapatos do que eu. Outro dia fomos dar uma espiada em você lá na clínica daquela médica simpática. Desta vez conseguimos te ver bem e tudo indica que, graças aos céus, você parece mais com tua mãe do que comigo. Vamos ver, estou de dedos cruzados. Enquanto escrevo aqui na sacada da pousada em Bombinhas, vejo tua mãe na areia, te carregando feliz da vida com seu barrigão lindo. É você que já deve estar louco para fazer castelos e enterrar teu pai na areia, como as outras crianças que estão por ali. Não se preocupe querido, em breve será a nossa vez.
Eu não sou exatamente um cara místico, que acredita muito em que tudo acontece por um motivo e tal. Ou pelo menos não era até ter meu filho e começar a me aproximar da meia idade. Agora, de verdade, meu velho ter perdido a hora no meu primeiro dia de aula em um novo colégio sempre fez meu ceticismo cair de joelhos, por assim dizer. Explico. Meu velho nunca perde a hora. Pelo contrário, a hora é que perde ele. Sempre agitado, ligadão, a mil por hora, quais eram as chances dele dormir demais no primeiro dia de aula de dois dos seus três filhos no colégio novo? Bom, alguma chance deveria ter, pois foi o que aconteceu. E esse pequeno deslize foi o que salvou a minha vida, sem exageros. Como cheguei atrasado, as carteiras próximas aos meus colegas do antigo colégio já estavam todas tomadas. Sobrou um lugar do outro lado da sala de aula, bem no meio de três figuras lendárias da cidade. Para um piá de prédio, patologicamente tímido, vindo de um colégio de filhinhos de papai, sentar no meio ...
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