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Mostrando postagens de julho, 2008

Knocking on the HEAVEN'S door

Morreu por culpa do cigarro. Foi para cama bêbado com o cigarro aceso entre os dedos e com o colchão em chamas bateu as botas, que no caso eram Nikes pretos. Quando chegou ao céu ainda não tinha se dado conta do que houvera. O porteiro, um anjo iniciante recém promovido, aproveitou para tirar um sarrinho. Afinal, o povo do céu também tem senso de humor. Pegou uma ficha azul improvisada e perguntou: - Nome e telefone, por favor. - João Alceu. 3226-XXXX – preservamos aqui a privacidade de João. - Bem vindo seu João! São 20 reais de consumação – e começou a revistar o recém-tostado. - É sua primeira vez aqui na casa? – continuou o anfitrião. - Hum... Para falar a verdade, nem sei onde estou, nem como vim parar aqui. Estou meio alto, sabe? - Não tem problema, vamos ter que fazer um cadastro rápido – riu sozinho pois o conceito de velocidade no céu fica distorcido com a premissa da eternidade. - Afinal, não estou vendo nenhuma placa por aqui, como é o nome desse lugar? - H

O que meu filho não vai ter

Meu filho não vai ter um pai que salva vidas como eu tenho. Nem vai ter um pai que conhece mais gente da idade dele do que ele próprio, e periga ser mais amigo dos amigos dele do que ele. O pai do meu filho dificilmente vai ter paciência de levar sanduíches e coca-cola nos intervalos da gravação do CD da bandinha de garagem que ele montar, como o avô dele fez, mesmo não sendo um grande fã de música, especialmente aquela que fazíamos. Tenho certeza que se meu filho chegar bêbado em casa, cinco da madrugada, não vai ser recebido com o café da manhã na mesa, e com certeza apanha se vomitar no meu pé ao invés de receber um sorriso acolhedor como meus irmãos e eu recebíamos. Meu filho não vai ter um pai que acerta a colocação dele no vestibular, antes de qualquer resultado oficial, fazendo cálculos e mais cálculos estatísticos que ainda nem inventaram. Meu filho não vai ter um pai cujo maior prazer da vida é trancar a casa com todos dentro no final do dia, para sentir que a família ainda

Walda

Walda era moça doce à primeira vista, mas que com o tempo, quando se conhecia melhor, era ardida e grudenta. Pobre do homem que cedia aos seus encantos sem maiores cuidados. Foi o caso de Júlio, que começou a namorar Walda em Agosto e a largou em Setembro. O caso se deu da seguinte maneira. Se encontraram numa destas casas de shows, onde tocava uma banda de pagode iniciante, com nome engraçado e talento duvidoso. Júlio, como sempre, estava encostado no balcão, fazendo calo no cotovelo enquanto tomava seu quinto gim com soda. Walda dançava com as amigas, escondida na fumaça de gelo seco que saia do palco onde a Jeito Malaco - acho que era esse o nome infame - tocava sua quinta música, que parecia muito com a primeira, a segunda, e todas as outras. Walda era linda e estava bem vestida, um mulherão que Júlio não podia nem sonhar em ter. Mas quem disse que a lógica interfere no mundo dos sonhos. Júlio olhava para Walda como um cachorro olha para o frango que gira na padaria. E Walda girava