Meu filho não vai ter um pai que salva vidas como eu tenho. Nem vai ter um pai que conhece mais gente da idade dele do que ele próprio, e periga ser mais amigo dos amigos dele do que ele. O pai do meu filho dificilmente vai ter paciência de levar sanduíches e coca-cola nos intervalos da gravação do CD da bandinha de garagem que ele montar, como o avô dele fez, mesmo não sendo um grande fã de música, especialmente aquela que fazíamos. Tenho certeza que se meu filho chegar bêbado em casa, cinco da madrugada, não vai ser recebido com o café da manhã na mesa, e com certeza apanha se vomitar no meu pé ao invés de receber um sorriso acolhedor como meus irmãos e eu recebíamos. Meu filho não vai ter um pai que acerta a colocação dele no vestibular, antes de qualquer resultado oficial, fazendo cálculos e mais cálculos estatísticos que ainda nem inventaram. Meu filho não vai ter um pai cujo maior prazer da vida é trancar a casa com todos dentro no final do dia, para sentir que a família ainda não se separou, nem que seja só por aquele instante. Não vai ter conforto nas frases repetidas, quando tudo o que se precisa é escutar o que já se sabe, da mesma maneira de sempre, para sentir-se em casa; pois sou bem mais complicado do que isso. Essas coisas eu não vou fazer, mas vou fazer outras, espero que suficientes para que meu filho tenha um dia vontade de contar para todos como somos grandes amigos.
Tudo é velho agora. Eu tenho rolhas de vinhos que tomei esses dias, datadas de 15 anos atrás. Livros de 2006 que ainda não li, datados também, com meu nome em cima. Tenho filhos grandes, alguns empregos no currículo, lembranças que se confundem. E me confundem. Acho que datados não são os livros, ou as rolhas de vinho. Datado sou eu. Mas não me sinto assim, o que provavelmente é bom. Ou talvez patético. Fiz uma tatuagem nova outro dia. A tatuagem é nova, os temas antigos. Bandas que gosto há mais de 30 anos, um livro que escrevi há mais de 10. Tudo é velho agora. Os souvenires, os quadros, os móveis e principalmente os uísques. Os uísques são muito velhos, mas já foi-se o tempo em que todos eram mais velhos que eu. Hoje em dia nem todos, só os melhores. Talvez esse seja o segredo, ficar datado como os melhores uísques, não como os piores discos. Envelhecer, sei lá, mais como um Macallan do que como o Momentary Lapse of Reason. Falando em Momentary Lapse o Reason, o Pink Floyd
Comentários
Não entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que vc vai ser quando você crescer..."