Meu filho não vai ter um pai que salva vidas como eu tenho. Nem vai ter um pai que conhece mais gente da idade dele do que ele próprio, e periga ser mais amigo dos amigos dele do que ele. O pai do meu filho dificilmente vai ter paciência de levar sanduíches e coca-cola nos intervalos da gravação do CD da bandinha de garagem que ele montar, como o avô dele fez, mesmo não sendo um grande fã de música, especialmente aquela que fazíamos. Tenho certeza que se meu filho chegar bêbado em casa, cinco da madrugada, não vai ser recebido com o café da manhã na mesa, e com certeza apanha se vomitar no meu pé ao invés de receber um sorriso acolhedor como meus irmãos e eu recebíamos. Meu filho não vai ter um pai que acerta a colocação dele no vestibular, antes de qualquer resultado oficial, fazendo cálculos e mais cálculos estatísticos que ainda nem inventaram. Meu filho não vai ter um pai cujo maior prazer da vida é trancar a casa com todos dentro no final do dia, para sentir que a família ainda não se separou, nem que seja só por aquele instante. Não vai ter conforto nas frases repetidas, quando tudo o que se precisa é escutar o que já se sabe, da mesma maneira de sempre, para sentir-se em casa; pois sou bem mais complicado do que isso. Essas coisas eu não vou fazer, mas vou fazer outras, espero que suficientes para que meu filho tenha um dia vontade de contar para todos como somos grandes amigos.
Como ser humano assumida e eternamente perplexo com a grandeza e as maravilhas do oceano, sempre percebo quando estou diante de um semelhante. Nós, os Seagazers , somos facilmente reconhecíveis. É só prestar atenção aos braços largados ao lado do corpo (ou as mãos dadas atrás das costas, uma variação que, à exceção do físico prejudicado e do fato de não usarmos sungas vermelhas, pode faze-lo nos confundir com salva-vidas prontos para a ação), ao olhar fixo no horizonte oceânico, às pernas um pouco espaçadas e a uma leve inclinação a sair nadando até desaparecer. No meu caso específico – pois não sou um porta-voz da nossa espécie, ou algo do tipo – se tiver um par de fones brancos no ouvido, com, por exemplo, Stargazer (um tipo mais conhecido mas não menos esquisito de Gazer ) do Mother Love Bone tocando, ainda melhor. Pode ser também a Oceans do Pearl Jam . Hoje, curtindo o último dia de férias na praia, descobri um novo membro do nosso seleto grupo de lunáticos. Meu filho. Ele te...
Comentários
Não entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que vc vai ser quando você crescer..."