Morreu por culpa do cigarro. Foi para cama bêbado com o cigarro aceso entre os dedos e com o colchão em chamas bateu as botas, que no caso eram Nikes pretos.
Quando chegou ao céu ainda não tinha se dado conta do que houvera. O porteiro, um anjo iniciante recém promovido, aproveitou para tirar um sarrinho. Afinal, o povo do céu também tem senso de humor. Pegou uma ficha azul improvisada e perguntou:
- Nome e telefone, por favor.
- João Alceu. 3226-XXXX – preservamos aqui a privacidade de João.
- Bem vindo seu João! São 20 reais de consumação – e começou a revistar o recém-tostado.
- É sua primeira vez aqui na casa? – continuou o anfitrião.
- Hum... Para falar a verdade, nem sei onde estou, nem como vim parar aqui. Estou meio alto, sabe?
- Não tem problema, vamos ter que fazer um cadastro rápido – riu sozinho pois o conceito de velocidade no céu fica distorcido com a premissa da eternidade.
- Afinal, não estou vendo nenhuma placa por aqui, como é o nome desse lugar?
- HEAVEN! – esnobou o anjo engraçadão.
- Uau! E a mulherada? Tá bombando?
Demorou a responder, lembrando do seu tempo de encarnado e das várias garotas que tivera. Nunca mais brincou com os calouros. Tem coisa que não vale a pena correr o risco de lembrar.
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