Pular para o conteúdo principal

Rick

Em casa novamente. Eu gosto de estar aqui quando posso. Hoje vim pensando em escrever sobre a morte de Richard Wright, homem dos teclados do Pink Floyd. Morreu jovem (tinha apenas 65 anos) e em quieto desespero, na luta contra um câncer não anunciado. Pensei em fazer uma homenagem, dessas que são feitas na tristeza do momento, emocionadas e geralmente exageradas, mas desisti. É mais divertido especular e fica menos forçado. Afinal, onde estará Rick neste momento?

Os mais apressados poderiam dizer que está junto com Syd Barret em algum canto psicodélico do lado escuro da lua, mas Rick era completamente diferente de Syd. Outros arriscariam que ele está no paraíso, tocando The Great Gig in The Sky, finalmente no lugar certo. Eu diria que não deve ser nada tão óbvio. Ídolos não fazem coisas óbvias e geralmente não acabam no paraíso. Imagino que, esteja onde estiver, respira finalmente o ar puro de não ser mais inglês, sem medo de se importar.

O tempo passou devagar para Rick, mas parou muito rápido, antes da hora normal. Nem sei o que ele andava fazendo nestes longos tempos de recesso Floydiano. Talvez estive se preparando para seu eclipse, talvez estivesse aprendendo a tocar bateria com o Nick Mason, sei lá. Só sei que fiquei triste e, antes que comece a exagerar e ficar emotivo, vou parando por aqui. Como Rick sempre cantava, “The time is gone, the song is over, thought I’d something more to say”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

História de fim de dia

O pai chegou em casa cedo naquele dia. O pequeno estava na sala, com alguns amigos que tinham vindo com ele do colégio para brincar de videogame. A mais velha estava no quarto, com alguns amigos que não tinham vindo com ela do colégio, batendo papos virtuais. A mãe estava no banho. O cachorro em todos os lugares. Chovia lá fora. Como as crianças já estavam cansando de matar monstros e fazer curvas impossíveis, o pai resolveu contar uma história. Atividade antiquada essa de contar histórias, com a TV desligada, onde já se viu. Mas não demorou muito para o pequeno e seus pequenos colegas vidrarem seus pequenos olhos no pai, mal respirando. Era sobre um ser que viveu aqui por essas paradas, há muito tempo. Um ser verdadeiramente iluminado. Apesar de não ser humano, era amigo de todos. Cada vez que ele aparecia para uma visita, nem que fosse breve, todos se alegravam. Ele inspirava planos, sonhos, música. Enquanto o pai contava, a filha mais velha se juntou à gangue. Ouviu o silêncio

O ensaio acabou

O ensaio acabou. Eles estavam exaustos. O ventilador de mesa nunca dava conta de mantê-los sãos nos dias de verão. Nos intervalos, cigarros e tererês, enquanto o guitarrista brincava na bateria (amor antigo para o qual nunca se entregou, mas continuava paquerando). A casa era de madeira, do baterista obviamente. No quarto ao lado, dormia a recém-nascida. Em poucos dias gravariam o primeiro CD, na época em que gravar CDs era um grande feito. As músicas estavam no ponto, ou pelo menos era o que achavam até entrarem no estúdio. O estúdio também não tinha ar condicionado, a não ser na sala de gravação. Estavam todos ansiosos. Foram dois dias só para ajustar e gravar a bateria (só o guitarrista teve saco de acompanhar todo o processo). Duas semanas no total para finalizar a obra. Depois de muitos cigarros, cervejas, erros e stress, a bolachinha ficou pronta. A pior parte foi a mixagem. A pior parte é sempre a mixagem. É quando você tenta arrumar o que não tem conserto.

Sem Planos

Esses carros modernos, pensou Marta, são tão estáveis e silenciosos que você passa dos cento e quarenta sem nem sentir. Ela estava dirigindo para visitar seu filho na faculdade em Florianópolis. João Lucas fazia engenharia mecânica, estava no segundo período e ainda tinha na cabeça o vácuo corriqueiro que se forma em calouros: entre esvaziar o cérebro dos decorebas inúteis necessários para passar no vestibular e enchê-lo novamente com cálculos, fórmulas, gráficos e tabelas, um pouco menos inúteis, que a engenharia exige. Três horas e meia de estrada para encher a geladeira do ingrato, que dará um aceno blasé quando ela chegar de viagem e entrar no minúsculo apartamento que ele divide com outros dois cabeças-oca. Marta olhou para a tela do seu BYD. Faltavam apenas oitenta quilômetros para chegar, mas as notícias não eram nada animadoras: trinta quilômetros de engarrafamento à frente. Segundo o aplicativo de GPS, a causa seria um acidente grave que estaria bloqueando a estrada. Preparou-