Enxergo grandeza onde não existe. Acredito na importância do que não é. Exagero nas reações. Sou assim desde pequeno, notadamente no campo turístico.
Quando tinha uns 8 ou 9 anos, fui com meus pais e irmãos para Foz do Iguaçu. Além de conhecer as cataratas, tínhamos a intenção de fazer algumas compras no Paraguai, que naquela época de economia fechada era ainda mais atraente. Era minha primeira viagem “internacional” e eu estava emocionado. A viagem durara horas e ainda estávamos em Cascavel, cidade do interior do Paraná que fica a mais ou menos uma hora de Foz do Iguaçu, fronteira com Ciudad del Este. Meu pai ligou o rádio e sintonizou uma estação paraguaia. Segundo relato dos meus pais, quando a música que tocava terminou e o locutor começou a falar em castelhano, eu chorava de emoção e gritava “Assunción, Assunción”.
Anos mais tarde, na minha primeira viagem internacional de verdade, fui para um congresso na França. Depois de uma semana passeando em Nice, onde teoricamente aconteceu o congresso, fomos, eu e minha mãe, para Paris. Passeamos por tudo, mas foi no museu do escultor Rodin que dei meu segundo bola-fora internacional. Pagamos os ingressos e antes de entrar no museu atravessamos um jardim muito simpático, com uma vista bonita da cúpula dourada da igreja do complexo de Les Invalides, que fica logo ao lado. No meio do jardim, para nossa total surpresa, exposta ao tempo estava a obra-prima do escultor, O Pensador. Era muito maior do que imaginávamos, e muito mais bonita. Tirávamos fotos sem parar, de todos os lados e ângulos possíveis. E o melhor, ninguém nos atrapalhava. Nenhum japonês para nos tirar da frente da estátua. Era um milagre turístico. Quase não entramos no museu, o objetivo já estava mais do que alcançado. Entramos por obrigação de quem já tinha pago os ingressos e descobrimos, bem quietinhos para ninguém saber que O Pensador é uma estatuazinha pequenina, protegida por vidros, difícil de fotografar e cheia de japoneses em volta, bem guardada no interior do museu.
Há algum tempo fui com minha esposa e um casal de amigos para Morretes. Nosso plano era descer a Serra da Graciosa e, para os que não ficassem com o estômago embrulhado nas curvas da serra, comer um barreado tradicional na chegada. Era a primeira vez que eu faria este trajeto, e como sou meio perdido por natureza, não seria desta vez que acertaria o caminho de primeira. Fomos embora e já no começo da estrada comecei com os devaneios. Achava tudo muito bacana, cada curva, cada ponte, cada pedacinho de mato. Meus três companheiros de viagem não mostravam a mesma empolgação e eu ficava indignado. No fundo eu também estava achando aquela Graciosa meio sem graça, mas não queria admitir. No final das contas, quando já deveríamos estar chegando em Morretes, chegamos no início da verdadeira estrada da Graciosa. Até então estávamos circulando por uma estradinha sem-vergonha, na qual haviamos nos perdido achando que estávamos achados. Depois de muita risada, apelidamos a falsa Graciosa de Feiosa. E essa não foi a pior desta viagem. Chegando em Morretes, sentamos em um restaurante na beira do rio. Enquanto esperávamos o barreado assassino, batendo um bom papo, avistei um peixe azul enorme brilhando na correnteza do rio, pulando para fora da água. A esta altura vocês já imaginam minha comoção. Já estava puxando a máquina de fotografias, que ainda não era digital, quando o povo começou a gargalhar. Não entendi a comédia da situação até ver novamente que o peixe azul na verdade era o chinelo azul de algum local que nadava animado rio abaixo.
Depois desta última, desisti de me empolgar com as coisas. Pelo menos até ter certeza de que não é furada. Por via das dúvidas, quando estou indo para outro país, evito sintonizar as rádios locais.
Comentários
Muito legal, me lembro do 'peixe' como se fosse ontem!