Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2010

Triathlon de Noel

Natal de 2010. Na verdade antevéspera de Natal, dia 23 de Dezembro. Faz 5 minutos que saí de uma reunião com um fornecedor crítico, que está quase parando a linha de produção de um de nossos clientes. Em mais 25 minutos entro em outra, com outro fornecedor crítico, que está quase parando a linha de produção de outro de nossos clientes. 2010 foi assim, basicamente uma corrida só, em três modalidades. Modalidade número 1, a já mencionada corrida atrás de peças para nossos clientes. Modalidade número 2, a emocionante corrida atrás do desenvolvimento pessoal. Já contei em outras ocasiões que todos os anos eu me isolo, por dois ou três dias, para fazer uma reflexão do ano que passou, das evoluções conquistadas e do que está por vir. Depois tenho o ano todo para dar os próximos passos. De fato dei muitos passos esse ano, mas sempre correndo contra o relógio. Clichê verdadeiro esse, como todos os clichês. E finalmente a melhor de todas. A modalidade número 3, corrida com revezamentos e

Um CD por Dia

Droga, o estoque está acabando novamente. Tenho que comprar outro tubão. Porra, cem CDs é quase um terço de ano e já vou ter que comprar outro. O tempo voa, como dizem sempre. Eu gravo um CD por dia, geralmente entre duas e três da manhã, auge da minha insônia. Um tempo atrás, como sabia que o dia dela seria ocupado e estressante, gravei um com James Blunt , Damien Rice e Sarah McLahlan . Foi um sucesso, especialmente porque escondi no final do CD uma das 5.000 versões do Pavarotti para O Sole Mio . Eu não gosto de Pavarotti , nem ela, mas ela tinha aula de italiano naquele dia e a música tocou enquanto dava mil voltas na quadra tentando achar vaga para estacionar. Ela riu muito. E rir no trânsito louco dessa cidade conta muitos pontos. Depois daquele primeiro CD, eu nunca mais parei. Já foi uns 20 tubões, o que significa mais de cinco anos cultivando essa mania. Quando brigávamos e a culpa era minha, eu dava um jeito de pedir desculpas na voz de outros. Geralmente o Bono resol

Despertadores

Eu não sou exatamente um cara místico, que acredita muito em que tudo acontece por um motivo e tal. Ou pelo menos não era até ter meu filho e começar a me aproximar da meia idade. Agora, de verdade, meu velho ter perdido a hora no meu primeiro dia de aula em um novo colégio sempre fez meu ceticismo cair de joelhos, por assim dizer. Explico. Meu velho nunca perde a hora. Pelo contrário, a hora é que perde ele. Sempre agitado, ligadão, a mil por hora, quais eram as chances dele dormir demais no primeiro dia de aula de dois dos seus três filhos no colégio novo? Bom, alguma chance deveria ter, pois foi o que aconteceu. E esse pequeno deslize foi o que salvou a minha vida, sem exageros. Como cheguei atrasado, as carteiras próximas aos meus colegas do antigo colégio já estavam todas tomadas. Sobrou um lugar do outro lado da sala de aula, bem no meio de três figuras lendárias da cidade. Para um piá de prédio, patologicamente tímido, vindo de um colégio de filhinhos de papai, sentar no meio

7 Canções e 1 Ilha Deserta - Ensaio II - Preaching the End of the World

Quando os acordes de Smeels Like Teen Spirit voltaram as atenções do mundo para Seattle, o rock estava salvo de mais uma de suas mortes anunciadas. O termo grunge já estava sendo usado para definir o “som de Seattle” muito antes do hino do Nirvana explodir em repetidas aparições na MTV, mas foi à partir deste momento que este novo gênero musical – que na verdade de novo não tinha nada, a não ser pela habilidade de trazer para o indie rock elementos do punk e do metal – ganhou o mainstream. Além de grandes bandas e excelentes canções, o pessoal do coturno, calças jeans rasgadas no joelho e camisas de flanela xadrez tipo lenhador deixou um legado menos comentado ao longo dos anos. Surgiram daquelas terras frias e chuvosas alguns dos melhores vocalistas de rock dos nossos tempos. Eddie Vedder, do Pearl Jam, é o mais óbvio e menos unanime de todos, mas outros dois, Mark Lanegan e Chris Cornell, são o que de melhor surgiu em Seattle em termos de gogó. Lanegan nos emociona com seu vozeirão

7 Canções e 1 Ilha Deserta - Ensaio I - Black

Black é uma balada descomunal. Umas das últimas grandes do rock. Lançada no início dos anos 90, localizada no meio do “classic album” Ten do Pearl Jam, é uma música que fala sobre a dor de não poder ter quem você ama. Tema adolescente – ou pelo menos gosto de pensar assim – retratado de forma adulta e sensível. A música acompanha as letras nesta dicotomia. Forte e decidia, é ao mesmo tempo chorosa e cheia de esperança. É a primeira – e uma das últimas – vez que o canto chorado de Eddie Veder soa autentico e emocionante. Como sempre com as letras dele, fica difícil saber exatamente sobre o que está cantando, bem como entender todas as palavras, mas isso não importa muito. Você sente que é real. Nas primeiras versões ao vivo da música, lá pelo final, quando a guitarra já está arrematando a cancão, um “We belong togheter” surge repetidamente, em tom de desespero. A letra original não tem esta parte. Adoro estas versões justamente porque este desespero final manda às favas toda a poesia

Vale a primeira frase

“Tudo depende da primeira frase. Você tem que pensar primeiro no final da história, depois desenvolve o resto. Escreva a primeira versão com o coração, depois a revise com o cérebro. Crie uma rotina e escreva todos os dias, pelo menos uma frase por dia. Você deve criar um perfil detalhado de cada personagem, escrever um ensaio sobre cada um deles. Já tentou usar o mind map para criar a história? E o método Snow Flake?” Se você, como é o meu caso, está na batalha para escrever seu primeiro livro, é inevitável topar com um ou mais dos conselhos acima. Para começar a história, se “tudo depende da primeira frase”, para que perder tempo com o resto? Faz a primeira frase e a publica. Pronto! O Millôr já sacou este lance há muito tempo. Outra, se “tudo depende da primeira frase” e você, teimoso que é, insiste em escrever o livro inteiro, por que preocupar-se com as outras dicas? A primeira frase já resolveu o negócio, o resto serve apenas para que o teu ego pare de te aporrinhar por uns dias

4 Ds

Didi, Dodô, Dadá, Dedé e Dudu, ninguém acredita, eram melhores amigos no colégio. Viviam discutindo sobre o que fariam no futuro. Menos o Dudu, ou Carlos Eduardo, como sua mãe tinha escolhido. Didi e Dedé queriam montar um time de futebol, Dodô e Dadá queriam lançar uma revista de piadas. Nem tudo é tão óbvio quanto parece. Dudu queria fumar maconha. A discussão foi acalorada e levou horas. Dudu não abriu a boca, mas ganhou a discussão quando acendeu o primeiro baseado, artesanalmente enrolado enquanto os outros quatro discutiam. Isso foi alguns anos antes de Didi, Dodô, Dadá e Dedé se tornarem (ou voltarem a ser) Alexandre, Oswaldo, Rivadávia e André. Dudu continuaria sendo Dudu por mais um tempo. Quando a maconha passou de hobbie para um negócio mais sério, Dudu do Bequi (um dos 36 apelidos do Carlos Eduardo, ou 35 de Dudu dependendo da perspectiva), as encrencas começaram a aparecer. E ele era sempre socorrido pelos outros quatro, agora sócios em uma firma de advocacia, depois que

Dionatan

Oi, meu nome é Dionatan. Minha mãe diz que tirou ele de um programa antigo de televisão. Deve ser do mesmo programa que ela tirou o nome da minha irmã, Dieniffer. Vai saber, minha mãe não é muito normal. Eu tenho onze anos, e quando tinha nove ganhei este computador do meu pai, que ele comprou parcelado em 24 vezes nas Casas Bahia. Meu pai diz que eu sou a esperança da família. Eu já tenho 359 amigos no Orkut, 225 no Facebook e 130 seguidores no Twitter. Estou começando a montar um perfil no MySpace para minha banda The Subtitles . O tio de um amigo meu do Orkut que inventou esse nome, mas eu nem sei o que significa. Também não tem problema, a banda ainda nem existe mesmo. Na verdade eu nem conheço esse meu amigo ainda, mas ele é muito amigo mesmo, do peito como diria meu pai. O zuzu99 é muito legal. Ele vai ser o baterista da banda. Acho que a última vez que vi minha irmã foi no Domingo passado, o que não quer dizer nada, pois nos falamos todos os dias pelo Messenger. Ela também tem

E se a banana estiver muito quente?

Levei mais de meia hora para dar café-da-manhã para o pequeno. Por café-da-manhã entenda-se uma banana cortada em rodelas finas. Minha esposa dormia, aproveitando o final de semana para recuperar um pouco do sono, artigo raro em casa ultimamente. Em um misto de instinto paternal e falta do que fazer com o neném, resolvi ensiná-lo a comer sozinho. Peguei duas colheres de borracha, destas que mudam de cor de acordo com a temperatura – como se a banana, tirada diretamente do cacho, oferecesse algum perigo térmico – dei uma para ele, e começamos a lição. Eu pegava uma rodela de banana, colocava com a minha colherinha na colherinha dele, dava uma amassada para grudar bem, segurava a mãozinha dele e conduzia a colherinha até a sua boca. Depois da terceira colherada me peguei falando “É isso aí filhão, já está comendo como gente grande”. Mal terminei de falar, lembrei de quantas vezes ouvi outros pais falando esse tipo de coisas, antes de eu ter meu filho, e achando isso ridículo. Eu era o ri

Processo vs Projeto

Normalmente o texto abaixo encaixaria muito melhor no blog  http://vouestarexecutando.blogspot.com . Mas se você ler o primeiro parágrafo rapidinho, sem dar muita bola, vai ver que não tinha como não colocar ele aqui também. Divirta-se: Eu vivo tentando explicar a diferença entre Processos e Projetos. Para minha equipe, para as turmas do treinamento de Gestão por Processos que aplico, para colegas e para eu mesmo. A coisa ficou mais complicada ainda agora que as duas disciplinas estão sob o guarda-chuva de grandes associações, o PMI ( Project Management Institue ) para a Gestão por Projetos e o ABPMP ( Association of Business Process Management Professionals ) para a Gestão por Processos. As duas têm seus livros de referência, o PMBOK ( Project Management Body of Knowledge ) e o BPM-CBOK ( Business Process Management Common Body of Knowledge ) respectivamente, e as duas têm certificações profissionais respeitáveis, o PMP ( Project Management Professional ) e o CBPP ( Certified Busine

Talvez uma nova canção

It was supposed to be nice and easy. Something natural which flows Now it looks like war. Guilt and sorrow prevails. What about that? Peace and respect were easy when I didn’t think for myself. So for the old time sakes, please tell me what to think! To have people of my own, with our own agenda and will, seems to offend you. I thought I was meant to be free, how can that be? Above all, I thought we were supposed to be friends, no matter what. Let’s just say this is not the way things are just now. Feel the pressure, feel the pain, feel the sadness that comes from unspoken words which are said anyway. In the end, we are all trying to do the best and to be the best. So why am I in suffer? Of all possible crises in life, this is one I never saw coming. Not saying it is a hopeless situation, just don’t feel hopeful right now. April is gone, but its bluesy air remains.

Das fraquezas da globalização

Nasci Brasileiro no interior do Paraná, filho de pais Brasileiros, mas neto de árabes. Uma avó de família Libanesa, outra nascida no Cairo. Os dois avôs da mesma cidade na Síria, mas que acabaram se conhecendo somente por aqui. Dizem que o sobrenome de um deles (o Nastás) é na verdade Grego, vai saber. Minha esposa também é Brasileira, só que neta de Italianos (dos dois lados). Meu filho é Curitibano e tem o olho um pouco puxado e os cabelos loiros (não vamos explorar isso agora). Ele adora Backyardigans , que é uma animação Canadense. Minha comida preferida é o bacalhau à Portuguesa – sem contar a comida árabe, é claro, mas a árabe para mim é comida da avó e isso fica sempre de fora dos rankings. Um dos meus escritores preferidos também é Portugês (o Saramago), mas o outro é Colombiano (Gabriel Garcia Márquez). Das minhas três bandas de rock favoritas, duas são Americanas e uma é Inglesa (Pink Floyd). Entre meus dez filmes preferidos está um Mexicano (O labirinto do Fauno). Trabalho n

Da brevidade dos encontros

Cuidar de um neném em casal lembra em muito uma corrida de revezamento. Sabe aquelas que a gente só assiste nas olimpíadas, onde quatro atletas se revezam em não sei quantos metros de corrida, passando o bastão para oficializar a troca de corredor? Essa mesma. A grande diferença é que na corrida (ou correria) da paternidade, ao invés de passar o bastão, você passa o neném. Tipo “toma que filho é teu” mesmo. - Benhê, pega ele agora um pouquinho para eu tomar uma ducha rápida. Não vou nem lavar cabelo. - Tá bom, mas antes fique com ele mais um pouco para eu escovar os dentes. - Tá. Vinte ou vinte e cinco minutos depois: - Agora fica com ele um pouquinho para eu trocar a lâmpada da sala. - Me dá, mas depois preciso preparar a jantinha dele e você olha. Daí eu dou a janta enquanto você vai relaxar um pouco. - Legal. Quando terminar a janta eu troco a fralda e você vai ver a novela. - Te amo! E assim o tempo vai passando. Os raros diálogos, os momentos de verdadeira conexão conjug

Seagazer

Como ser humano assumida e eternamente perplexo com a grandeza e as maravilhas do oceano, sempre percebo quando estou diante de um semelhante. Nós, os Seagazers , somos facilmente reconhecíveis. É só prestar atenção aos braços largados ao lado do corpo (ou as mãos dadas atrás das costas, uma variação que, à exceção do físico prejudicado e do fato de não usarmos sungas vermelhas, pode faze-lo nos confundir com salva-vidas prontos para a ação), ao olhar fixo no horizonte oceânico, às pernas um pouco espaçadas e a uma leve inclinação a sair nadando até desaparecer. No meu caso específico – pois não sou um porta-voz da nossa espécie, ou algo do tipo – se tiver um par de fones brancos no ouvido, com, por exemplo, Stargazer (um tipo mais conhecido mas não menos esquisito de Gazer ) do Mother Love Bone tocando, ainda melhor. Pode ser também a Oceans do Pearl Jam . Hoje, curtindo o último dia de férias na praia, descobri um novo membro do nosso seleto grupo de lunáticos. Meu filho. Ele te

O Livro

Eu era muito pequeno quando plantei uma árvore. Sei lá, devia ter uns cinco anos. Não era tão fácil naquela epoca – início dos anos oitenta – ter consciência ecológica como é hoje. Ainda mais para uma criança de cinco anos de idade. Lembro que foi complicado. A escola nos colocou em um ônibus – eu, minha turma e todo o resto dos estudantes – nos levou até algum lugar ao ar livre, nos deu uma pá já cheia de terra e nos indicou o buraco que deveríamos tapar (que já estava com a muda de eucalipto devidamente posicionada). Trabalho duro, mas que sem dúvida está ajudando a salvar nosso planeta. Fazer o filho, por outro lado, foi bem mais tranquilo. Eu diria até que foi muito bom. Cuidar dele é que não está sendo tão fácil, mas um ano depois posso dizer que está tudo sob controle. Além do mais, basta um pingo de baba direto no teu olho enquanto você brinca de nave espacial com ele para saber que vale a pena. Resta então o livro. Andei fazendo algumas consultas, inclusive à minha própria co

Sobre a importância de não estar pronto

Nosso pequeno acaba de completar um ano. Enquanto ele era apenas um projeto, uma pergunta que sempre nos fazíamos era a clássica “Será que estamos prontos?” Mal sabíamos que a resposta a esta pergunta é e sempre será “não”. Ninguém nunca está pronto para ser pai ou mãe. Que bom! Do alto da minha profunda experiência de quem está a um ano inteirinho nesse negócio, posso dizer com tranquilidade que os melhores, mais divertidos e mais emocionantes momentos até agora foram aqueles para os quais eu não estava nem um pouco pronto. Sem exemplos ninguém vai acreditar em mim. Lembro do dia em que estava saindo o terceiro dente do pequeno. Foi uma comoção. Desde quando dente ficou importante? Até hoje eu só lembrava deles no dentista, ou quando sonhava que estavam caindo. Agora, cada um que nasce é uma festa. Tadinho, ele deve olhar para nós e pensar “Qual é a desse povo cheio de dentes? Quem quer saber desse negócio? Pra que comemorar? Dói pra caramba para nascer e não servem pra muita cois

Quando os mestres não ajudaram

Que não faltasse grafite nem folhas em branco. Com uma paisagem daquelas, estava disposto a escrever até fazer calos nos dedos. Se fosse bem honesto, admitiria que a paisagem não era aquilo tudo. Sua vontade de encher páginas tinha mais que ver com seu estado de espírito, relaxado e satisfeito com o descanso daqueles dias de férias. Abriu uma lata de refrigerante, deu dois apertões na ponta de sua lapiseira, abriu seu Moleskini - presente de um grande amigo - na página 23 (tivera a paciência de numerar as páginas para facilitar futuras e incertas referências), respirou fundo e começou a escrever. Enrolou por algumas linhas, esperando a inspiração que não tardaria a dar as caras. Lembrou do Hemingway que acabara de ler, e da comovente luta entre amigos - o velho e o peixe. Confessou para sua própria consciência a preguiça que estava de começar seu primeiro Shakespeare, que aguardava com paciência britânica na fila da prateleira. Nenhum dos mestres ajudou, continuava sem ideias. Olhou à