Quando os acordes de Smeels Like Teen Spirit voltaram as atenções do mundo para Seattle, o rock estava salvo de mais uma de suas mortes anunciadas. O termo grunge já estava sendo usado para definir o “som de Seattle” muito antes do hino do Nirvana explodir em repetidas aparições na MTV, mas foi à partir deste momento que este novo gênero musical – que na verdade de novo não tinha nada, a não ser pela habilidade de trazer para o indie rock elementos do punk e do metal – ganhou o mainstream. Além de grandes bandas e excelentes canções, o pessoal do coturno, calças jeans rasgadas no joelho e camisas de flanela xadrez tipo lenhador deixou um legado menos comentado ao longo dos anos. Surgiram daquelas terras frias e chuvosas alguns dos melhores vocalistas de rock dos nossos tempos. Eddie Vedder, do Pearl Jam, é o mais óbvio e menos unanime de todos, mas outros dois, Mark Lanegan e Chris Cornell, são o que de melhor surgiu em Seattle em termos de gogó.
Lanegan nos emociona com seu vozeirão grave e triste, curtido em litros de uísque e maços de cigarro. Soltou canções inacreditáveis com seu Screaming Trees e em alguns de seus irregulares álbuns solo.
Igualmente irregulares – e na fase pós-Audioslave até mesmo desastrosos – são os álbuns que Chris Cornell fez sem o Soundgarden, uma das melhores bandas da cena grunge. Porém, em seu primeiro álbum solo, Euphoria Morning – único da entressafra entre o final do Soundgarden e a criação do Audioslave – está uma de suas melhores canções. Preaching the End of the World ocupa a terceira posição da bolachinha e é uma das mais belas canções já escritas sobre o fim dos tempos. Uma balada na medida para o alcance vocal de Cornell, que parece ilimitado, sobre o fim do mundo. Nada mais nada menos. Depois da avalanche de cenas de fim de mundo embutidas em nossas cabeças pelos inúmeros filmes do gênero, que de tempos em tempos pipocam dos porões de Hollywood, não era de se esperar que a exploração deste tema trouxesse algo novo, com o frescor que somente as grandes canções oferecem. Pois bem, Cornell conseguiu. O que ele fez foi trazer para o tema uma simplicidade cotidiana e uma paz de espírito ao mesmo tempo reconfortante e assustadora. No final das contas, ele só quer alguém para passar os últimos minutos juntos. Sem frescura, sem jogos psicológicos, sem surpresas. Afinal, “It’s just the end of the world. You need a friend in the world, ‘cause you can’t hide.” Touché!
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