Droga, o estoque está acabando novamente. Tenho que comprar outro tubão. Porra, cem CDs é quase um terço de ano e já vou ter que comprar outro. O tempo voa, como dizem sempre. Eu gravo um CD por dia, geralmente entre duas e três da manhã, auge da minha insônia.
Um tempo atrás, como sabia que o dia dela seria ocupado e estressante, gravei um com James Blunt, Damien Rice e Sarah McLahlan. Foi um sucesso, especialmente porque escondi no final do CD uma das 5.000 versões do Pavarotti para O Sole Mio. Eu não gosto de Pavarotti, nem ela, mas ela tinha aula de italiano naquele dia e a música tocou enquanto dava mil voltas na quadra tentando achar vaga para estacionar. Ela riu muito. E rir no trânsito louco dessa cidade conta muitos pontos. Depois daquele primeiro CD, eu nunca mais parei. Já foi uns 20 tubões, o que significa mais de cinco anos cultivando essa mania.
Quando brigávamos e a culpa era minha, eu dava um jeito de pedir desculpas na voz de outros. Geralmente o Bono resolvia ou, em caso de desespero total, Aerosmith. Quando a culpa era dela, eu dava um jeito de demonstrar minha mágoa através de alguma canção triste com acordes menores – My Way sempre foi minha preferida nestes casos, meio que dando um sinal de que seria bem fácil eu seguir meu caminho, o que na verdade era uma mentira deslavada. Às vezes, quando a mágoa era muito grande e acompanhada de raiva aguda, gravava uma só música de alguma banda tipo Metallica ou Megadeth, das mais aceleradas, para deixá-la sem alternativa que não fosse escutar minha revolta. Ficava dado o recado.
Lembro de uma vez que eu quis sair da rotina e passar a noite em um motel. Gravei Marvin Gaye e ela não entendeu. Passamos a noite em casa. Daí ela entendeu. No dia que descobrimos que ela estava grávida, gravei uma das minhas obras primas. Fiz uma bolachinha com versões de ninar para todas as músicas preferidas dela, de U2 a Live. Meses depois ninguém mais agüentava aquele CD, pois foi reaproveitado nas noites de cólica e insônia do neném. Mas a primeira audição foi um sucesso quase tão grande quanto o da primeira vez, aquela do Pavarotti.
Hoje acordei para vir para o trabalho. Ela sabe que a coisa anda meio complicada por aqui e que o nível de stress está maior do que o suportável. Para minha surpresa, lá estava ele, um dos meus CDs virgens, agora desvirginado, em cima do meu celular. Não tinha nada escrito, nem uma frase espirituosa como eu costumo fazer. Tudo bem, ela é caloura na arte. Saí de casa cuidando para não fazer barulho, entrei no carro, zerei o odômetro, como faço todos os dias, pus o cinto de segurança e saí da garagem. Escutei as notícias do dia, preparei o espírito e coloquei o CD para tocar.
A primeira música era The Good Life, do Weezer. Agora vou ter que esperar pelo menos duas horas até ela acordar para entender se foi barbeiragem de caloura ou se estou realmente encrencado.
Um tempo atrás, como sabia que o dia dela seria ocupado e estressante, gravei um com James Blunt, Damien Rice e Sarah McLahlan. Foi um sucesso, especialmente porque escondi no final do CD uma das 5.000 versões do Pavarotti para O Sole Mio. Eu não gosto de Pavarotti, nem ela, mas ela tinha aula de italiano naquele dia e a música tocou enquanto dava mil voltas na quadra tentando achar vaga para estacionar. Ela riu muito. E rir no trânsito louco dessa cidade conta muitos pontos. Depois daquele primeiro CD, eu nunca mais parei. Já foi uns 20 tubões, o que significa mais de cinco anos cultivando essa mania.
Quando brigávamos e a culpa era minha, eu dava um jeito de pedir desculpas na voz de outros. Geralmente o Bono resolvia ou, em caso de desespero total, Aerosmith. Quando a culpa era dela, eu dava um jeito de demonstrar minha mágoa através de alguma canção triste com acordes menores – My Way sempre foi minha preferida nestes casos, meio que dando um sinal de que seria bem fácil eu seguir meu caminho, o que na verdade era uma mentira deslavada. Às vezes, quando a mágoa era muito grande e acompanhada de raiva aguda, gravava uma só música de alguma banda tipo Metallica ou Megadeth, das mais aceleradas, para deixá-la sem alternativa que não fosse escutar minha revolta. Ficava dado o recado.
Lembro de uma vez que eu quis sair da rotina e passar a noite em um motel. Gravei Marvin Gaye e ela não entendeu. Passamos a noite em casa. Daí ela entendeu. No dia que descobrimos que ela estava grávida, gravei uma das minhas obras primas. Fiz uma bolachinha com versões de ninar para todas as músicas preferidas dela, de U2 a Live. Meses depois ninguém mais agüentava aquele CD, pois foi reaproveitado nas noites de cólica e insônia do neném. Mas a primeira audição foi um sucesso quase tão grande quanto o da primeira vez, aquela do Pavarotti.
Hoje acordei para vir para o trabalho. Ela sabe que a coisa anda meio complicada por aqui e que o nível de stress está maior do que o suportável. Para minha surpresa, lá estava ele, um dos meus CDs virgens, agora desvirginado, em cima do meu celular. Não tinha nada escrito, nem uma frase espirituosa como eu costumo fazer. Tudo bem, ela é caloura na arte. Saí de casa cuidando para não fazer barulho, entrei no carro, zerei o odômetro, como faço todos os dias, pus o cinto de segurança e saí da garagem. Escutei as notícias do dia, preparei o espírito e coloquei o CD para tocar.
A primeira música era The Good Life, do Weezer. Agora vou ter que esperar pelo menos duas horas até ela acordar para entender se foi barbeiragem de caloura ou se estou realmente encrencado.
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