Adoro ver minha esposa se arrumando para festas. É como se fosse um desfile de modas particular. Existe todo um ritual que deve ser cumprido até começar o desfile, mas vale a pena.
Tudo começa com o banho. Ah, o banho! Às vezes acho que as mulheres tentam remover até as pintas de nascença no banho. Fico imaginando a cena. Ela segurando a pontinha da esponja, cheia de sabão, e esfregando compulsivamente a pinta pensa: “Droga, ainda não foi desta vez, mas um dia eu tiro esta porcaria daqui.”
Depois do banho vem a parte mais barulhenta da história. Secar o cabelo talvez seja a tarefa mais importante do processo para as mulheres. A relação delas com o secador é tão íntima que às vezes chega a dar ciúmes. Todas têm um apelido para o seu. Minha esposa chama o dela de “turbininha”, o que faz sentido pelo barulho infernal que sai dali.
Cabelo seco, escolhe-se a roupa. Não entendi direito ainda, mas parece haver umas três ou quatro etapas aqui, dependendo da pressa. Não vou nem tentar descrevê-las. É claro que direta ou indiretamente acabamos participando de todas. É aqui que está o maior segredo do casamento, saber quando elas querem realmente uma opinião, ou quando só querem confirmar a delas. E ouse não dominar este segredo! Vai dormir no sofá sem ter a menor idéia do porquê.
Quando, em um misto de sinceridade e desespero, você fala que elas já estão perfeitas, descobre que ainda falta a maquilagem, e depois as jóias e por último o perfume. Você nem lembra mais para onde estão indo. Já está embaixo das cobertas, procurando um filme na TV, e ainda tem que escutar: “Você não está pronto ainda?”
De qualquer forma, não existe desfile de modas melhor do que este. Além de toda a diversão, depois da festa você volta para casa e ainda dorme com a modelo.
Eu não sou exatamente um cara místico, que acredita muito em que tudo acontece por um motivo e tal. Ou pelo menos não era até ter meu filho e começar a me aproximar da meia idade. Agora, de verdade, meu velho ter perdido a hora no meu primeiro dia de aula em um novo colégio sempre fez meu ceticismo cair de joelhos, por assim dizer. Explico. Meu velho nunca perde a hora. Pelo contrário, a hora é que perde ele. Sempre agitado, ligadão, a mil por hora, quais eram as chances dele dormir demais no primeiro dia de aula de dois dos seus três filhos no colégio novo? Bom, alguma chance deveria ter, pois foi o que aconteceu. E esse pequeno deslize foi o que salvou a minha vida, sem exageros. Como cheguei atrasado, as carteiras próximas aos meus colegas do antigo colégio já estavam todas tomadas. Sobrou um lugar do outro lado da sala de aula, bem no meio de três figuras lendárias da cidade. Para um piá de prédio, patologicamente tímido, vindo de um colégio de filhinhos de papai, sentar no meio ...
Comentários
O duro é ficar esperando na porta até "alguém" terminar de se arrumar...(!)
Te amo!