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Avião

Tenho medo de voar. Medo não, pavor! Sou capaz de ficar 12 horas olhando na telinha de bordo se o avião continua com a mesma velocidade e na mesma altitude. Faz sentido?
Cada vez que falo para alguém que tenho medo de voar, vem a celebre frase: “Voar é mais seguro que viajar de ônibus, as estatísticas comprovam.” Que estatísticas são essas? Não vem querer me enganar! Nenhum estatístico jamais sobreviveu a um acidente de avião para contestar estes “números”. Se sobreviveu, continua tão apavorado que parou de fazer cálculos.
O pior de tudo é que minha esposa tem o mesmo medo, ou até maior. Nosso diálogo em viagens de avião é um espetáculo:
- Amor, por que aquela aeromoça passou nos olhando com aquela cara?
- Acho que não é nada, ela parece meio antipática mesmo. Mas olhe, ela parou de servir o jantar.
- Pare com isso, ela só está batendo papo com a outra. E esse barulho estranho?
É assim o tempo todo. Isso quando não estão os dois, petrificados, olhando pela janelinha a procura de sinais de segurança. Qualquer nuvem mais escura ativa o alerta imediatamente. Um olha para o outro querendo dizer o que não se diz, mas no fundo os dois sabem que o pior está para acontecer. É claro que nada acontece, e o pior continua sendo a comida horrível que servem na classe econômica, mas é assim que funciona.
Não vejo a hora de juntar mais uma graninha e voar para bem longe. Qualquer lugar depois do atlântico serve. Se tiver turbulência eu perco o apetite, mas a comida na Europa é bem melhor que a do avião de qualquer maneira.

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