Outro dia li no jornal um texto do Nick Hornby. Para quem não conhece, ele é um escritor britânico, autor do livro “Alta Fidelidade”, que tem o argumento de um dos melhores filmes da nossa geração. Naquele texto, ele explorava as relações entre a idade da pessoa, sua mentalidade e a música que ela escuta.
Todo mundo que está beirando os trinta anos e ainda prefere rock à jazz sente um alívio ao ler o texto. É claro que a tendência de quem está avançando na vida adulta é mudar o seu estilo de vida, e com ele a música que escuta. Há, porém, aqueles que preferem deixar para a música o papel de guardiã dos sonhos da juventude, da alegria de viver, do amor bobo e da rebeldia. Uma coisa não precisa estar ligada à outra. Eu não preciso ser rebelde para apreciar o valor da rebeldia. Poucos entendem isto, pois se enchem de preconceitos prontos, que nem são seus, mas que facilitam tremendamente o trabalho de “entender” o mundo.
No filme “As Horas”, em uma das melhores cenas, a personagem de Meryl Streep está na cama, conversando com sua filha, interpretada por Claire Danes. No auge da cena, ela diz que passamos a vida procurando por um momento de grande felicidade, quando a felicidade está justamente nas possibilidades que esta procura nos oferece. Para muitas pessoas, a música com guitarras, feita por gente mais nova, representa exatamente isto. A lembrança das possibilidades de outros tempos, e a motivação para criar novas possibilidades afloram nos primeiros acordes.
Seja através da música, seja através de um hobbie qualquer, desenvolver e manter a capacidade de sonhar os sonhos que já não fazem mais parte do cotidiano é um achado no meio da insanidade da vida adulta.
O pai chegou em casa cedo naquele dia. O pequeno estava na sala, com alguns amigos que tinham vindo com ele do colégio para brincar de videogame. A mais velha estava no quarto, com alguns amigos que não tinham vindo com ela do colégio, batendo papos virtuais. A mãe estava no banho. O cachorro em todos os lugares. Chovia lá fora. Como as crianças já estavam cansando de matar monstros e fazer curvas impossíveis, o pai resolveu contar uma história. Atividade antiquada essa de contar histórias, com a TV desligada, onde já se viu. Mas não demorou muito para o pequeno e seus pequenos colegas vidrarem seus pequenos olhos no pai, mal respirando. Era sobre um ser que viveu aqui por essas paradas, há muito tempo. Um ser verdadeiramente iluminado. Apesar de não ser humano, era amigo de todos. Cada vez que ele aparecia para uma visita, nem que fosse breve, todos se alegravam. Ele inspirava planos, sonhos, música. Enquanto o pai contava, a filha mais velha se juntou à gangue. Ouviu o silêncio
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