Adoro ver minha esposa se arrumando para festas. É como se fosse um desfile de modas particular. Existe todo um ritual que deve ser cumprido até começar o desfile, mas vale a pena.
Tudo começa com o banho. Ah, o banho! Às vezes acho que as mulheres tentam remover até as pintas de nascença no banho. Fico imaginando a cena. Ela segurando a pontinha da esponja, cheia de sabão, e esfregando compulsivamente a pinta pensa: “Droga, ainda não foi desta vez, mas um dia eu tiro esta porcaria daqui.”
Depois do banho vem a parte mais barulhenta da história. Secar o cabelo talvez seja a tarefa mais importante do processo para as mulheres. A relação delas com o secador é tão íntima que às vezes chega a dar ciúmes. Todas têm um apelido para o seu. Minha esposa chama o dela de “turbininha”, o que faz sentido pelo barulho infernal que sai dali.
Cabelo seco, escolhe-se a roupa. Não entendi direito ainda, mas parece haver umas três ou quatro etapas aqui, dependendo da pressa. Não vou nem tentar descrevê-las. É claro que direta ou indiretamente acabamos participando de todas. É aqui que está o maior segredo do casamento, saber quando elas querem realmente uma opinião, ou quando só querem confirmar a delas. E ouse não dominar este segredo! Vai dormir no sofá sem ter a menor idéia do porquê.
Quando, em um misto de sinceridade e desespero, você fala que elas já estão perfeitas, descobre que ainda falta a maquilagem, e depois as jóias e por último o perfume. Você nem lembra mais para onde estão indo. Já está embaixo das cobertas, procurando um filme na TV, e ainda tem que escutar: “Você não está pronto ainda?”
De qualquer forma, não existe desfile de modas melhor do que este. Além de toda a diversão, depois da festa você volta para casa e ainda dorme com a modelo.
Tudo é velho agora. Eu tenho rolhas de vinhos que tomei esses dias, datadas de 15 anos atrás. Livros de 2006 que ainda não li, datados também, com meu nome em cima. Tenho filhos grandes, alguns empregos no currículo, lembranças que se confundem. E me confundem. Acho que datados não são os livros, ou as rolhas de vinho. Datado sou eu. Mas não me sinto assim, o que provavelmente é bom. Ou talvez patético. Fiz uma tatuagem nova outro dia. A tatuagem é nova, os temas antigos. Bandas que gosto há mais de 30 anos, um livro que escrevi há mais de 10. Tudo é velho agora. Os souvenires, os quadros, os móveis e principalmente os uísques. Os uísques são muito velhos, mas já foi-se o tempo em que todos eram mais velhos que eu. Hoje em dia nem todos, só os melhores. Talvez esse seja o segredo, ficar datado como os melhores uísques, não como os piores discos. Envelhecer, sei lá, mais como um Macallan do que como o Momentary Lapse of Reason. Falando em Momentary Lapse o Reason, o Pink Floyd
Comentários
O duro é ficar esperando na porta até "alguém" terminar de se arrumar...(!)
Te amo!