Sempre quis fazer uma homenagem a um homem que foi parte muito importante da minha vida, o tio Carlos. Eu poderia fazer um texto sobre as qualidades dele como engenheiro, ou professor, ou qualquer outra coisa, mas não seria verdadeira. Apesar de ter sido meu primeiro “patrão”, quando eu ainda estudava engenharia, não sei dizer quais eram suas qualidades profissionais. O que sei dizer, e esta é minha homenagem, é que o tio Carlos era o rei do networking.
Nunca na minha vida toda fui dar uma volta com o tio Carlos sem que ele cumprimentasse pelo menos umas três pessoas diferentes. E não pense que ele cumprimentava sem conhecer. E não pense que ele conhecia superficialmente. Ele sempre sabia o nome e pelo menos uma característica única da pessoa. Um diálogo típico seria:
- Oi doutor! – ele chamava todo mundo de doutor – Tudo bem?
- Tudo seu Carlos, e o senhor?
- Graças a Deus! E daí, já vendeu o Landau dourado?
Era sempre assim. Ele parecia realmente se importar com as pessoas. Este era o verdadeiro poder do seu networking. Faze-lo não era uma profissão para o tio, mas um prazer. Aprendi muito com ele neste sentido. Mais do que desenhar fiações elétricas e pontos de iluminação em papel vegetal.
De meses antes de o tio descobrir que tinha câncer até o dia que ele faleceu, devo ter falado com ele umas duas vezes no máximo, uma delas no hospital. É estranho, pois até um tempo antes vivíamos juntos. Talvez eu nunca entenda o que aconteceu. Quem sabe eu era muito jovem e imaturo para vê-lo sofrer. Quem sabe ele já estava meio desligado das coisas daqui, fazendo seu networking com o pessoal do além. Vai saber? Consigo até imaginar a chegada dele:
- Oi doutor! Tudo bem?
- Carlos, meu filho, que bom recebe-lo por aqui!
- O prazer é meu, mas me diga, sua mãe, Maria, continua com aquela dor nas costas?
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Um forte abraço.