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Por que você não é daqui?

Por aqui as coisas são diferentes. Se os pássaros migrarem para o sul no inverno, morrem congelados. Por aqui, se você pedir um cookie, vão te dar um cuque, de uva ou de banana. Se for em Santa Catarina ainda vão corrigí-lo, dizendo que é cuca e não cuque. Querido pai: você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Respondo: por que você não é daqui. Se fosse saberia de tudo isso e mais, por aqui a gente gosta mais de bunda do que de peito, nosso futebol é de fato jogado com os pés (ao contrário do americano e do argentino) e esqueceram de contar para o pessoal do McDonald's local a tradução de fast food. Nosso senso de direção é péssimo; norte, sul, leste e oeste não significam muita coisa para nós. Por aqui a bala é perdida, e geralmente encontrada na cabeça de um inocente, e geralmente naquela cidade maravilhosa cheia de favelas. Você não tem a menor ideia do que seja uma favela, mas adora ver filmes sobre elas. Querido pai: você me perguntou recentemente por que eu afirmo ter medo de você. Respondo: tenho medo de você porque você acha bonito ter medo daqui. Quando vier, não esqueça de me visitar, se eu já não tiver migrado para o sul.

Comentários

Taty disse…
Original...adorei!!

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História de fim de dia

O pai chegou em casa cedo naquele dia. O pequeno estava na sala, com alguns amigos que tinham vindo com ele do colégio para brincar de videogame. A mais velha estava no quarto, com alguns amigos que não tinham vindo com ela do colégio, batendo papos virtuais. A mãe estava no banho. O cachorro em todos os lugares. Chovia lá fora. Como as crianças já estavam cansando de matar monstros e fazer curvas impossíveis, o pai resolveu contar uma história. Atividade antiquada essa de contar histórias, com a TV desligada, onde já se viu. Mas não demorou muito para o pequeno e seus pequenos colegas vidrarem seus pequenos olhos no pai, mal respirando. Era sobre um ser que viveu aqui por essas paradas, há muito tempo. Um ser verdadeiramente iluminado. Apesar de não ser humano, era amigo de todos. Cada vez que ele aparecia para uma visita, nem que fosse breve, todos se alegravam. Ele inspirava planos, sonhos, música. Enquanto o pai contava, a filha mais velha se juntou à gangue. Ouviu o silêncio

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