Ele está perdido, completamente perdido. Coitado, o que foi que fizeram com ele. Deram-no a majestade, mas tiraram-no o reino. Pobre homem. Quem? Como assim, vocês o conhecem, não tenho dúvidas. Ele está por aí, é só ver. Pobre homem. Continua mandando, continua pomposo, ainda pede reverência e fala só, à mesa de almoço. Manda em tudo, mesmo tudo sendo quase nada. Perdeu o reino, mas ainda é rei. Pobre homem. Mais pobre de nós, pessoas com rei, sem reino e felizes.
O pai chegou em casa cedo naquele dia. O pequeno estava na sala, com alguns amigos que tinham vindo com ele do colégio para brincar de videogame. A mais velha estava no quarto, com alguns amigos que não tinham vindo com ela do colégio, batendo papos virtuais. A mãe estava no banho. O cachorro em todos os lugares. Chovia lá fora. Como as crianças já estavam cansando de matar monstros e fazer curvas impossíveis, o pai resolveu contar uma história. Atividade antiquada essa de contar histórias, com a TV desligada, onde já se viu. Mas não demorou muito para o pequeno e seus pequenos colegas vidrarem seus pequenos olhos no pai, mal respirando. Era sobre um ser que viveu aqui por essas paradas, há muito tempo. Um ser verdadeiramente iluminado. Apesar de não ser humano, era amigo de todos. Cada vez que ele aparecia para uma visita, nem que fosse breve, todos se alegravam. Ele inspirava planos, sonhos, música. Enquanto o pai contava, a filha mais velha se juntou à gangue. Ouviu o silêncio
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