Minhas unhas já cresceram outra vez, e lembro de tê-las cortado ainda ontem. Lembro bem porque ontem teve lasanha no almoço. Ou será que a lasanha foi anteontem? É verdade, ontem teve feijão. Agora me confundi se cortei as unhas no dia da lasanha ou no dia que fui no cinema com a Tati, que foi uns dois dias antes. Ou foi na semana passada? Semana passada nós fomos passar o final de semana na casa de meus pais, que foi um final de semana depois das eleições, e lembro bem que na semana das eleições não fomos ao cinema, pois eu queria assistir ao debate (inútil diga-se de passagem) na televisão. É isso, agora lembrei, um mês atrás foi a ultima vez que fomos ao cinema, uma semana antes das eleições, duas semanas antes de passarmos o final de semana na casa de meus pais, três semanas antes de comer lasanha no almoço, uma semana atrás. Nem sei mais quando cortei minhas unhas pela última vez, mas elas estão gigantes. Ou o mês é que encolheu?
Tudo é velho agora. Eu tenho rolhas de vinhos que tomei esses dias, datadas de 15 anos atrás. Livros de 2006 que ainda não li, datados também, com meu nome em cima. Tenho filhos grandes, alguns empregos no currículo, lembranças que se confundem. E me confundem. Acho que datados não são os livros, ou as rolhas de vinho. Datado sou eu. Mas não me sinto assim, o que provavelmente é bom. Ou talvez patético. Fiz uma tatuagem nova outro dia. A tatuagem é nova, os temas antigos. Bandas que gosto há mais de 30 anos, um livro que escrevi há mais de 10. Tudo é velho agora. Os souvenires, os quadros, os móveis e principalmente os uísques. Os uísques são muito velhos, mas já foi-se o tempo em que todos eram mais velhos que eu. Hoje em dia nem todos, só os melhores. Talvez esse seja o segredo, ficar datado como os melhores uísques, não como os piores discos. Envelhecer, sei lá, mais como um Macallan do que como o Momentary Lapse of Reason. Falando em Momentary Lapse o Reason, o Pink Floyd
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