O ensaio acabou. Eles estavam exaustos. O ventilador de mesa
nunca dava conta de mantê-los sãos nos dias de verão.
Nos intervalos, cigarros e tererês, enquanto o guitarrista
brincava na bateria (amor antigo para o qual nunca se entregou, mas continuava paquerando).
A casa era de madeira, do baterista obviamente. No quarto ao lado, dormia a
recém-nascida.
Em poucos dias gravariam o primeiro CD, na época em que
gravar CDs era um grande feito. As músicas estavam no ponto, ou pelo menos era
o que achavam até entrarem no estúdio.
O estúdio também não tinha ar condicionado, a não ser na
sala de gravação. Estavam todos ansiosos. Foram dois dias só para ajustar e
gravar a bateria (só o guitarrista teve saco de acompanhar todo o processo).
Duas semanas no total para finalizar a obra.
Depois de muitos cigarros, cervejas, erros e stress, a
bolachinha ficou pronta. A pior parte foi a mixagem. A pior parte é sempre a
mixagem. É quando você tenta arrumar o que não tem conserto.
No final das contas o trabalho ficou ótimo, o CD foi prensado
e lançado, com relativo sucesso na cena underground. A cena underground é pequena.
Relativo sucesso na cena underground é algo menor que pequeno, mas apenas
comercialmente falando. Para os meninos foi algo gigantesco. Algo que meio que
definiu suas vidas dali em diante. Não que tenham seguido carreira na música,
mas foi ali que aprenderam que tudo é possível. E foda-se.
Depois daquilo, o ensaio acabou.
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