Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2012

Humildade do ar

Meu filho me perguntou o que era a humildade do ar. Estávamos com a TV ligada e ele deve ter ouvido algo na previsão do tempo do jornal. Eu tinha duas opções. Interpretar a pergunta como um pequeno deslize gramatical e corrigi-lo, ou entender que meu filho, que ainda não tem quatro anos, é um gênio da filosofia, que já está dando seus primeiros passos rumo ao entendimento definitivo do universo. Para mim fez muito mais sentido a segunda opção, e disparei: - Veja filho, não é tão simples assim. Tem muito que ver com o fato do ar não escolher, não ter critério nem pré-julgamentos. Ele é de todos. Está aí para todos. E o mais importante, não aparece, não cobra nada de ninguém, não quer ou exige nenhum tipo de reconhecimento. Está entendendo filho? E mesmo assim, ou talvez até por isso mesmo, o ser humano faz mau uso dele. Estraga o ar. Polui. Humilha mesmo, sabe como? Quando olhei para o lado, meu pequeno estava vidrado no vídeo da Galinha Pintadinha, sabe-se lá há quanto tempo. Esta

Vai ser do Peru

Se o mundo acabar mesmo no dia 21 de Dezembro deste ano, como os Maias supostamente previram, todas as preocupações que eu tive até hoje não terão servido para nada. Pense no desperdício. Terão sido horas, dias, anos de preocupação à toa. O mundo não pode acabar em Dezembro. De jeito nenhum. Investi tanto tempo da minha vida me preocupando com alguma coisa para dar em nada? Não. Seria a maior das sacanagens do destino. Uma vida de preocupações sem sentido. Não que eu não me preocupe de vez em quando com o fim do mundo em si, mas essa preocupação sempre foi mais tipo um hobbie. Tudo bem, não foi um hobbie, na época da guerra fria eu me pelava de medo. Sem trocadilho. Mas o fato é que, se o mundo acabar mesmo, terei perdido realmente muito tempo. Então eu decidi não me preocupar mais, com porra nenhuma. Chega. Resolvi viver a vida, chutar o balde. Carpe Diem! Pelo menos até o dia 21 de Dezembro. Depois eu vejo o que eu faço. Você vai pensar que é a crise da meia idade. Não é. Po

Uma espécie de justificativa

Temos um novo pequeno em casa, agora com quase dois meses. Pequeno mesmo. Quando o primeiro veio, eu tinha tempo para muita coisa. Narrei a gravidez, a chegada e os primeiros meses com certa abundância. Se um dia o segundo levar isso em conta para medir e comparar nosso amor por ele em relação ao primeiro, ferrou tudo. Filhos adoram comparar a quantidade de amor dos pais em relação aos irmãos. Eu sei, sou filho e tenho dois irmãos. A questão é que essa comparação não é justa nunca, muito menos neste caso, pois tudo mudou desde que o primeiro chegou, e tempo para escrever foi um dos (se não o) mais afetado em todo esse processo. De qualquer forma, assim como meus pais sempre falaram (e eu sempre desconfiei), e os seus também devem ter falado (e você deve desconfiar), meu amor pelos dois pequenos é infinito. E infinito é sempre igual. Quando engravidamos do segundo, o nível de ansiedade estava alto, pois tínhamos perdido um neném bem no inicio da gravidez, meses antes. Tinha muita

Merda

- Merda. - Que foi? - Como assim o que foi? - Merda, o que? O que houve? - Nada ué. - Então por que falou merda? - Você sabe. Para dar sorte. É como os artistas falam antes de entrar no palco. - Deixa de ser ridículo. Em primeiro lugar, nós não somos artistas, em segundo, acho que só os de teatro falam isso. Não somos artistas, muito menos de teatro. - Como não somos artistas? E nossa música é o que? - Música? Você chama isso de música? Você escreveu estas letras idiotas, colocou três acordes em cima e inventou essa história de dupla caipira. Sinceramente, sei não. - Poxa mano, isso é hora de duvidar do negócio? Estamos prestes a entrar no palco. E não é caipira, é sertanejo universitário. - Que palco? Aquele cantinho ali que deixaram para nós? E além do mais, tem três pessoas no bar, e tenho certeza que eles não fazem a menor questão de ouvir nossa “música”. - Não fala assim mano. Machuca. - Para de frescura. Sabe do que, não sei onde eu estava

Se não fosse aquela azeitona

Eram 35 no começo e saíram juntos. O caminho não era longo, mas difícil. Ainda mais difícil era sincronizar os 35, que pareciam mil. Cada um era de um jeito, de uma idade e com diferentes vontades. Cada um. Não tinham guia, nem mapa. Nem bússola ou lanterna. Só a roupa do corpo e a certeza de que aquela era a direção correta, sem saber por que. E assim foram seguindo. Lá pelas tantas, quando já eram menos de 20, um dos que sobrou perguntou: - Alguém já comeu o enfeite da salada? - Que tipo de pergunta idiota é essa? – perguntou outro. - É que foi assim que eu morri. – respondeu – Engasguei com o caroço da azeitona e não tinha ninguém para fazer a manobra de Heimlich. - Manobra de quem? Que manobra é es.... Peraí, morreu? Que papo é esse? - Sim, não estamos aqui? Como foi com você? Um silêncio mortal tomou conta da caravana. Só ele tinha se tocado do que houvera e agora, de um golpe só, todos sabiam. Ficaram horas parados, tentando entender, contando su