Temos um novo pequeno em casa, agora com quase dois meses.
Pequeno mesmo. Quando o primeiro veio, eu tinha tempo para muita coisa. Narrei
a gravidez, a chegada e os primeiros meses com certa abundância. Se um dia o
segundo levar isso em conta para medir e comparar nosso amor por ele em relação
ao primeiro, ferrou tudo. Filhos adoram comparar a quantidade de amor dos pais
em relação aos irmãos. Eu sei, sou filho e tenho dois irmãos. A questão é que
essa comparação não é justa nunca, muito menos neste caso, pois tudo mudou
desde que o primeiro chegou, e tempo para escrever foi um dos (se não o) mais
afetado em todo esse processo. De qualquer forma, assim como meus pais sempre
falaram (e eu sempre desconfiei), e os seus também devem ter falado (e você
deve desconfiar), meu amor pelos dois pequenos é infinito. E infinito é sempre
igual.
Quando engravidamos do segundo, o nível de ansiedade estava
alto, pois tínhamos perdido um neném bem no inicio da gravidez, meses antes.
Tinha muita expectativa na sala de espera para o primeiro ultrassom. Sabíamos
que tínhamos perdido a inocência na primeira gravidez. Quando escutei aquele
coraçãozinho batendo, quase o meu parou. Chegando em casa, escrevi o texto
abaixo. Um texto de alívio, sim, mas principalmente de amor. Infinito. Igualzinho
ao que sinto pelo primeiro. Nossos pais têm razão.
“No fim tudo se resume a um batimento de coração
absurdamente rápido. 173 batidas por minuto o Dr. falou. Normal para a idade
gestacional, o Dr. falou. Bom, se o Dr. falou está falado. Depois de tanto
tempo, tanta espera, tanta ansiedade, tudo o que queria era ouvir aquele
coraçãozinho batendo. Se ele tem dois centímetros, de ponta a ponta, imagine o
tamanho do coração. Mas já está batendo. E rápido, que ele tem pressa. Todo
mundo tem pressa hoje em dia, mesmo os que têm apenas dois centímetros. De
ponta a ponta. Depois ele vai crescer, e vai querer sair porque a casa ficou
pequena, e vai crescer mais e, anos depois, vai querer sair de novo, pois a
casa ficará pequena para todos nós, e vai para uma casa menor, mas gigante para
ele, e não se lembrará da primeira casa, quando seu coração batia a 173 por
minuto. Mas sempre que voltar, de saudades, de fome ou de coração partido,
deitará no peito da mãe dele e escutará o coração dela, que naquele dia lá
atrás, quando o dele batia a 173 por minuto, quase parou quando o Dr. projetou
na parede a imagem daqueles dois centímetros de histórias por vir.”
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