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Uma mãe digna de Cannes

Minha primeira viagem à França foi em 1997. Meu pretexto era um congresso mundial em engenharia biomédica, tema do meu mestrado nunca concluído. Minha primeira saída do Brasil. Minha primeira viagem de avião. Como companheira de viagem, com o pretexto de não me deixar cair em nenhuma enrascada, minha mãe. Uma baita companheira de viagem, diga-se de passagem. Enquanto eu encarava as várias palestras dos 3 dias de congresso, dei à minha velha a nobre missão de filmar alguns topless da praia de Nice, a espetacular cidade litorânea da famosa Cote D´Azur. E ela filmou. Vários. Mãe é mãe.

Meu filho também tem uma mãe, minha querida Tati. Quando a vejo se desdobrando para agradá-lo, sem um pingo de mau humor, lembro daquela viagem.

Quando lembrei essa história, já pai e tendo testemunhado de perto a ralação diária de uma mãe dedicada, liguei para a minha pedindo desculpas. Ela não entendeu nada.

Para todas as mães e futuras mães, meu mais profundo respeito e consideração, agora com a propriedade de quem acompanha uma diariamente. E se seu filho pedir para você filmar alguma coisa que não te desperte o mínimo interesse, na boa, não custa nada.

Comentários

Ju disse…
Q lindo Digo... parabéns!!!

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História de fim de dia

O pai chegou em casa cedo naquele dia. O pequeno estava na sala, com alguns amigos que tinham vindo com ele do colégio para brincar de videogame. A mais velha estava no quarto, com alguns amigos que não tinham vindo com ela do colégio, batendo papos virtuais. A mãe estava no banho. O cachorro em todos os lugares. Chovia lá fora. Como as crianças já estavam cansando de matar monstros e fazer curvas impossíveis, o pai resolveu contar uma história. Atividade antiquada essa de contar histórias, com a TV desligada, onde já se viu. Mas não demorou muito para o pequeno e seus pequenos colegas vidrarem seus pequenos olhos no pai, mal respirando. Era sobre um ser que viveu aqui por essas paradas, há muito tempo. Um ser verdadeiramente iluminado. Apesar de não ser humano, era amigo de todos. Cada vez que ele aparecia para uma visita, nem que fosse breve, todos se alegravam. Ele inspirava planos, sonhos, música. Enquanto o pai contava, a filha mais velha se juntou à gangue. Ouviu o silêncio

O ensaio acabou

O ensaio acabou. Eles estavam exaustos. O ventilador de mesa nunca dava conta de mantê-los sãos nos dias de verão. Nos intervalos, cigarros e tererês, enquanto o guitarrista brincava na bateria (amor antigo para o qual nunca se entregou, mas continuava paquerando). A casa era de madeira, do baterista obviamente. No quarto ao lado, dormia a recém-nascida. Em poucos dias gravariam o primeiro CD, na época em que gravar CDs era um grande feito. As músicas estavam no ponto, ou pelo menos era o que achavam até entrarem no estúdio. O estúdio também não tinha ar condicionado, a não ser na sala de gravação. Estavam todos ansiosos. Foram dois dias só para ajustar e gravar a bateria (só o guitarrista teve saco de acompanhar todo o processo). Duas semanas no total para finalizar a obra. Depois de muitos cigarros, cervejas, erros e stress, a bolachinha ficou pronta. A pior parte foi a mixagem. A pior parte é sempre a mixagem. É quando você tenta arrumar o que não tem conserto.

Sem Planos

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