Foi ao despontar do dia 09 de 09 de 09, um dia como outro qualquer, que Francis saiu de casa para trabalhar. Tinha que chegar cedo para resolver quatro ou cinco problemas que não resolveu ontem e que o impedirão de resolver os quatro ou cinco problemas de hoje, que ficarão para amanhã, quando terá que chegar cedo ao trabalho como todo dia. Estava pensando, desde o dia 08 de 08 de 08, a largar o emprego.
Chegou no escritório antes da tia do cafezinho, bateu a capa de chuva na parede e pendurou-a no cabideiro. Cumpriu o ritual de chegada e começou a ler as mensagens do correio eletrônico. Lá pela trigésima sétima mensagem, ainda muito antes dos ônibus despejarem as mais de mil pessoas que trabalhavam na sua unidade, escutou um ruído vindo do banheiro. Mais por preocupação do que por curiosidade, foi verificar. A cena foi tão chocante que passou o dia todo balbuciando para quem não quisesse ouvir "Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real."
As pessoas chegavam, ligavam suas máquinas, liam suas próprias mensagens atrasadas e o ignoravam. Ficou assim neste estado, balbuciando e sendo ignorado até o meio do dia, quando finalmente o colega da mesa ao lado resolveu perguntar, "que foi Francis, viu algum fantasma por acaso?"
Pior. Muito pior. Estavam trocando o toalheiro por aquelas máquinas de secar as mãos. Agora era definitivo, pediria as contas hoje mesmo.
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