O tempo faz bem ao bom rock. Ele é um filtro natural entre o que é perene e o que expirou e, mais importante ainda, descola os rótulos que insistimos em colocar no que é novo. É como uma boa garrafa de vinho que sobrevive ao tempo e você encontra no porão do seu avô sem o rótulo. Naquele momento, você não sabe se o vinho é bom ou não, se sobreviveu ao tempo ou não. Sequer sabe que nome deram para ele. Tira a rolha, toma um gole e descobre.
Fico imaginando meu filho recém-nascido descobrindo minha coleção de CDs. Para ele não fará a menor diferença se o Green Day era classificado à época como punk rock, power pop, hardcore melódico ou qualquer outro nome que se dê hoje ao tipo de música que eles fazem. Ele vai escutar Dookie como hoje eu escuto Never Mind the Bollocks, um clássico absoluto. Vai escutar Radiohead como eu escuto Dark Side of the Moon e Damien Rice como eu escuto Springsteen. Não me interessa como classificavam o Floyd, os Pistols ou o Boss em suas respectivas épocas, o que interessa é que a música sobreviveu.
Com as bandas novas eu não consigo. Escuto todas elas com o selo que nelas colocam. Estava escutando o novo do Green Day e fiquei me perguntando se eles ainda fazem punk rock. Para mim fazem, mas como meu filho escutará este disco em 18 anos? Falta de personalidade minha? Sei lá. Todo mundo que conheço que toma vinho com denominação de origem controlada ou com nota maior do que 90 do famoso crítico Robert Parker, um dia já tomou vinho Campo Largo de garrafão escutando God Save the Queen.
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