Tudo é velho agora. Eu tenho rolhas de vinhos que tomei esses
dias, datadas de 15 anos atrás. Livros de 2006 que ainda não li, datados
também, com meu nome em cima. Tenho filhos grandes, alguns empregos no
currículo, lembranças que se confundem. E me confundem.
Acho que datados não são os livros, ou as rolhas de vinho.
Datado sou eu. Mas não me sinto assim, o que provavelmente é bom. Ou talvez patético.
Fiz uma tatuagem nova outro dia. A tatuagem é nova, os temas
antigos. Bandas que gosto há mais de 30 anos, um livro que escrevi há mais de
10.
Tudo é velho agora. Os souvenires, os quadros, os móveis e
principalmente os uísques. Os uísques são muito velhos, mas já foi-se o tempo
em que todos eram mais velhos que eu. Hoje em dia nem todos, só os melhores.
Talvez esse seja o segredo, ficar datado como os melhores uísques, não como os
piores discos. Envelhecer, sei lá, mais como um Macallan do que como o Momentary
Lapse of Reason.
Falando em Momentary Lapse o Reason, o Pink Floyd relançou o
disco regravando a bateria e trocando os sons dos teclados. Como disse um
grande amigo, o que torna um álbum datado não são as composições, mas a produção.
O velho Floyd entendeu isso e tentou resgatar um álbum de grandes composições,
mas com produção fraca e datada, como quase tudo o que foi feito nos anos 80.
Eu não fui feito nos anos 80, mas em 75, e até acho que o
material é bom, e para não ficar datado tento o tempo todo me atualizar, trocando
as baterias e teclados, se é que você me entende.
Tudo é velho agora. Mas nem tudo o que é velho precisa ser
datado. E é essa a minha luta daqui para frente. Ser metade Macallan e metade
boas composições, cuidando sempre com a produção.
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