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Mostrando postagens de 2017

Peixoto

Acordou muito cedo, mais que o de costume, tomou os remédios, deu comida para o peixe, catou o casaco, a mochila com o notebook, desligou o alarme e foi. No caminho, escutando Pinkerton, do Weezer, perguntou-se porque tem o peixe. Quase não olha para ele, fica meio escondido na cozinha, como se estivesse sempre na iminência de virar um petisco para acompanhar seu single malt noturno diário, não serve para nada. Mas ele gosta do peixe, que na falta de um nome melhor chamou Peixoto. Mais para Caubi do que para o Marechal, Peixoto é um beta exibido, colorido e inútil. Pensaria depois o que fazer com o peixe, sendo a opção mais provável não fazer nada. Uns 40 quilômetros já avançados no caminho da Universidade deu-se conta de que não sabia o que ia falar na aula. Isso acontecia todos os dias e, como morava no interior de lugar algum, 120 quilômetros longe da sala de aula onde passava seus dias, sempre tinha tempo de preparar mentalmente o esqueleto da aula, que desenvolveria de

Um baita livro

Eu estava no meio da leitura de um baita livro. E vou te falar, quase nada é tão importante quanto estar no meio da leitura de um baita livro, mas as pessoas parecem não compartilhar dessa ideia. Especialmente os dois casais que estavam na mesa de jantar da minha casa, e minha esposa que estava com eles, todos me esperando para começar enquanto eu estava trancado há meia hora no banheiro, sem conseguir largar o livro. Na verdade, não tinha nem me dado conta de que trinta minutos já tinham se passado, quando ouvi o grito mais assustadoramente desesperado que ouvi na minha vida, e não era da minha esposa. Saí correndo do banheiro, desci as escadas quase sem sentir os degraus debaixo de meus pés descalços e cheguei à sala de jantar. A mesa estava posta, os pratos servidos e intocados, as taças com vinho pela metade sem nenhuma marca de batom das mulheres, a música tocando no meu toca-discos de vinil, as janelas abertas com a lua cheia entrando sem se importar com a cena, e ninguém

Merecidos anos novos

Se tem uma grande coisa sobre este ano de 2016, é que ele não passou suave. Pelo visto para quase ninguém. Ele deixou marcas, algumas profundas. Não é disso que sempre reclamamos? Que nada acontece, que o tempo voa, que a rotina nos engole? Não teve rotina em 2016, a não ser a da reclamação. Claro que foi um ano duro, não dá para dourar a pílula. Nem se deve. Perdi incontáveis noites de sono em 2016. A situação da política, da economia, da segurança, acordamos sem saber se vamos dormir empregados, ou com nossas empresas ainda operando, o nível de incerteza foi absurdamente mais alto do que o brasileiro entende como normal e confortável. Esse ano foi tudo, menos confortável. Mas que ano foi esse! Talvez o único que lembrarei para sempre desta década. O mais importante aconteceu, e não acontecia há algum tempo. Eu aprendi como nunca. Comentei com alguns colegas e familiares que fazia anos que eu não aprendia tanto, e é verdade. Em 2015 uma grande empresa familiar de moda em San