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Plaquinha Vermelha


O Josimar é um sujeito patologicamente bem educado. Só para citar um exemplo dos problemas práticos que o excesso de educação traziam para o Josimar, ele não conseguia, em hipótese alguma, ir a um churrascaria de rodízio.

Com aquela loucura de espetos e bandejas, Josimar tinha que dizer “não obrigado” sempre que quisesse dispensar algum pedaço de boi que estivessem servindo, ou “sim, por favor” quando aceitasse. O problema é que sua doença não permitia que ele falasse de boca cheia e o negócio travava. Chegou a um ponto em que ele inventava desculpas do tipo “já almocei” ou “hoje estou meio sem fome” para não passar vergonha.

Já estava sem esperanças quando um primo, mais do que letrado em rodízios, deu uma sugestão. Bastava que ele, assim que aceitasse a primeira fatia de picanha, virasse a plaquinha para o lado vermelho. Quando terminasse de comer, com toda a calma e etiqueta típicas do Josimar, virava novamente no verde, e assim sua vida estava salva da iminente falta de proteínas animais.

E lá foi o Josimar. Escolheu a roupa a dedo, tomou um banho demorado e foi para a melhor churrascaria da cidade testar a nova técnica. Estava indo tudo bem. Já tinha passado pelo coração de galinha, pelo faisão (que ele sempre desconfiou ser um golpe), pela primeira rodada de picanha e pelo carneiro. Estava quase no ápice, quando aconteceu.

Assim que terminou o carneiro, com um delicioso molho de hortelã, virou a plaquinha para verde. “Podem vir”, pensou quase em voz alta. Recebeu um generoso pedaço de costela e virou a plaquinha novamente. Encarou a presa, cortou um pedaço quase sem a faca, de tão macio, e encheu a boca. Foi nesse momento que um distraído garçom ofereceu linguiça para o Josimar. Com a boca ainda cheia de costela ele começou a gritar (e cuspir), “puta que pariu, não tá vendo a plaquinha no vermelho?” A esta altura ele estava mais vermelho que a plaquinha e o restaurante inteiro olhava para ele. “Você é burro ou quê? Não dão treinamento nesse lugar?” E continuava gritando e cuspindo, vermelho. Quando se deu conta do descontrole inédito, tentando recuperar a educação, que era sua marca registrada, disse, “Mas com todo o respeito, é claro”.

Quando anunciou para os amigos e parentes que decidira tornar-se vegetariano, todo mundo achou uma excelente ideia.

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