Tenho uma coleção de fotografias. Bom, todo mundo tem uma coleção de fotografias, mas não como a minha. Não é uma coleção enorme, não tem bizarrices, não é de Polaroid, é apenas uma coleção de fotografias, mas é única. Mesmo quando a coleção entrou na era digital, continuei mandando imprimir. Tenho exatamente vinte mil setecentas e cinqüenta e duas fotografias, uma para cada dia, desde o dia em que fiz dezoito anos. Eu achava que estava ficando velho quando fiz dezoito anos. Isso me assusta agora que estou realmente ficando velho. Nunca mostrei minha coleção para ninguém, e nunca vou mostrar. Isso é uma das coisas que faz da minha coleção única. Eu também não vejo as fotografias depois que as guardo. A foto de amanhã já planejei, a de hoje já fiz, a de ontem revelei e as da semana passada já esqueci. São todas iguais, o que muda é o tempo. São todas diferentes. Ao contrário de Dorian Gray, envelheço junto com os retratos, ou até mais do que eles, porque eles só registram o envelhecimento do meu corpo, quando o pior é o das minhas idéias. No fim, tal qual o personagem de Oscar Wilde, só saberão quem sou pelos anéis. E na parede não encontrarão um quadro, comigo no auge da juventude. Encontrarão uma caixa enorme de velhas fotografias, com um registro preciso, lento e acachapante da chegada da velhice. Ou pior, do caminho até ela. Por favor, não me entenda mal, não estou reclamando do caminho, na verdade ele tem sido muito bom. O que me inferniza é eu ter achado que era velho cedo demais. Agora, aos setenta e quatro (caso você não tenha feito as contas), não tenho mais coragem de parar com as fotografias.
Tenho uma coleção de fotografias. Bom, todo mundo tem uma coleção de fotografias, mas não como a minha. Não é uma coleção enorme, não tem bizarrices, não é de Polaroid, é apenas uma coleção de fotografias, mas é única. Mesmo quando a coleção entrou na era digital, continuei mandando imprimir. Tenho exatamente vinte mil setecentas e cinqüenta e duas fotografias, uma para cada dia, desde o dia em que fiz dezoito anos. Eu achava que estava ficando velho quando fiz dezoito anos. Isso me assusta agora que estou realmente ficando velho. Nunca mostrei minha coleção para ninguém, e nunca vou mostrar. Isso é uma das coisas que faz da minha coleção única. Eu também não vejo as fotografias depois que as guardo. A foto de amanhã já planejei, a de hoje já fiz, a de ontem revelei e as da semana passada já esqueci. São todas iguais, o que muda é o tempo. São todas diferentes. Ao contrário de Dorian Gray, envelheço junto com os retratos, ou até mais do que eles, porque eles só registram o envelhecimento do meu corpo, quando o pior é o das minhas idéias. No fim, tal qual o personagem de Oscar Wilde, só saberão quem sou pelos anéis. E na parede não encontrarão um quadro, comigo no auge da juventude. Encontrarão uma caixa enorme de velhas fotografias, com um registro preciso, lento e acachapante da chegada da velhice. Ou pior, do caminho até ela. Por favor, não me entenda mal, não estou reclamando do caminho, na verdade ele tem sido muito bom. O que me inferniza é eu ter achado que era velho cedo demais. Agora, aos setenta e quatro (caso você não tenha feito as contas), não tenho mais coragem de parar com as fotografias.
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