- Porra pai, prá que me acordar? - Eu não te acordei. Você acordou sozinho. A ninguém foi dado o poder de acordar pelo outro. - Não começa velho. Você abriu as janelas e ficou assoviando o hino à bandeira. Deixa eu dormir, por amor de deus, que ainda é cedo. - Você esqueceu que dia é hoje filho? - Estou tentando. - E tem outra, hoje você não escapa de cortar esse cabelo. - Que história é essa? Não vou cortar cabelo nenhum. - Aaaah, vai! Lembra aquela vez que chamei teu irmão e teu primo e te levamos à força? Quer repetir a dose? - Pai, eu tinha dezesseis anos naquela época. Aliás, nunca vou perdoar aquilo. Estava finalmente conseguindo ter a cabeleira que eu queria. - Aquele ninho de ratos? Nós te fizemos um favor. - Tá bom, tá legal. De qualquer maneira, sinto falta daquele tempo. - Nem me fale. - Lembra que ficávamos falando sobre a vida todas as tardes de Sábado? - E se lembro. - Como é que você agüentava um piá de dezesseis anos filosofando sobre a vida por horas a fi
"A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la" Gabriel García Márquez