Pular para o conteúdo principal

Amiga com um plus a mais adicional

Quando vejo minha esposa se transformando em 1000 para cuidar do nosso pequeno e percebo o prazer que ela sente ao fazê-lo, mesmo quando não sente mais as pernas e os braços, não sabe mais que dia da semana é e às vezes esquece meu nome, não consigo evitar de imaginar minha mãe cuidando de três pequenos ao mesmo tempo. Nos últimos dias tenho feito um enorme esforço mental para lembrar da minha "velha" naquela época, mas minha memória não me tem ajudado muito neste caso.

Toda vez que tento, consigo lembrar apenas da amiga e ao invés da mãe. Lembro da amiga que me deu uma força enorme nos dias do vestibular para engenharia. Lembro da amiga e companheira de viagem, quando saí do país pela primeira vez, entrei num avião pela primeira vez e nos apavoramos juntos em uma aterrisagem acrobática em Nice pela primeira (e se Deus quiser última) vez. Da amiga que com muito tato me convenceu a telefonar para a garota pela qual nutri um amor platônico de quase um ano, e que acabou assim que desliguei o telefone. E que acompanha cada conquista minha e também cada percalço que encontro, com seu interesse genuíno, low-profile e confortante. Enfim, uma verdadeira amiga, cuja principal característica é a transparência. É praticamente impossível vê-la fingindo que gosta de alguém que de verdade não goste, ou vê-la tentando esvaziar um problema que todos sabem que está lá. Em um mundo onde tentamos ser quem não somos, ter uma amiga como esta é um baita privilégio.

Se ainda por cima ela é tua mãe e faz um bacalhau com ovos, batatas e azeitonas pretas de lamber os beiços, daí meu amigo leitor, não há competição. Lamento muito.

Comentários

Unknown disse…
apesar do ciúmes q tive, achei sensacional, mas certa feita vc tbem me elogiou, a tua mãe realmente merece e mais.parabéns
Que lindo amor! Mãe é realmente uma das coisas mais importantes na vida!
Beijos!

Postagens mais visitadas deste blog

Seagazer

Como ser humano assumida e eternamente perplexo com a grandeza e as maravilhas do oceano, sempre percebo quando estou diante de um semelhante. Nós, os Seagazers , somos facilmente reconhecíveis. É só prestar atenção aos braços largados ao lado do corpo (ou as mãos dadas atrás das costas, uma variação que, à exceção do físico prejudicado e do fato de não usarmos sungas vermelhas, pode faze-lo nos confundir com salva-vidas prontos para a ação), ao olhar fixo no horizonte oceânico, às pernas um pouco espaçadas e a uma leve inclinação a sair nadando até desaparecer. No meu caso específico – pois não sou um porta-voz da nossa espécie, ou algo do tipo – se tiver um par de fones brancos no ouvido, com, por exemplo, Stargazer (um tipo mais conhecido mas não menos esquisito de Gazer ) do Mother Love Bone tocando, ainda melhor. Pode ser também a Oceans do Pearl Jam . Hoje, curtindo o último dia de férias na praia, descobri um novo membro do nosso seleto grupo de lunáticos. Meu filho. Ele te...

O nome do longo hiato

Tenho agora algo em torno de doze leitores assíduos. É demais para a minha cabeça. Esse negócio está fugindo do controle. Antes eram apenas minha doce esposa, minha sogra, meu pai e meu irmão mais novo. Estava tudo sob controle. Agora que tem outros oito, me sinto na obrigação de justificar o longo hiato entre o último texto e este, e entre este e os próximos, que provavelmente será tão longo quanto. A justificativa tem seis meses, nove quilos, o primeiro dente e responde por filhão ou gorducho, só que deste último ele não gosta muito. Falando nele, vai aí uma dica de veterano para aqueles que tem filhos de cinco, quatro, três, dois ou um mês, mais conhecidos como calouros. Tudo o que te disseram sobre os nenéns - perceba, eu não disse quase tudo, ou muito do que, ou a maioria, eu disse TUDO - é mentira ou não se aplicará ao seu. Só para dar um exemplo, um colega de trabalho me disse categoricamente que as cólicas, quando existem, acabam como que num passe de mágica no exato momento ...

Despertadores

Eu não sou exatamente um cara místico, que acredita muito em que tudo acontece por um motivo e tal. Ou pelo menos não era até ter meu filho e começar a me aproximar da meia idade. Agora, de verdade, meu velho ter perdido a hora no meu primeiro dia de aula em um novo colégio sempre fez meu ceticismo cair de joelhos, por assim dizer. Explico. Meu velho nunca perde a hora. Pelo contrário, a hora é que perde ele. Sempre agitado, ligadão, a mil por hora, quais eram as chances dele dormir demais no primeiro dia de aula de dois dos seus três filhos no colégio novo? Bom, alguma chance deveria ter, pois foi o que aconteceu. E esse pequeno deslize foi o que salvou a minha vida, sem exageros. Como cheguei atrasado, as carteiras próximas aos meus colegas do antigo colégio já estavam todas tomadas. Sobrou um lugar do outro lado da sala de aula, bem no meio de três figuras lendárias da cidade. Para um piá de prédio, patologicamente tímido, vindo de um colégio de filhinhos de papai, sentar no meio ...