Sempre que tocava uma música boa, ele aumentava o volume na esperança de que ela soltasse os cabelos e os chacoalhasse como antigamente. Foi assim a primeira vez que a viu, com uma amiga, dançando ao som de uma banda qualquer que animava a festa. Nunca pedia, não que ela fosse se negar, mas não teria o mesmo efeito. São estranhas as coisas da vida, que nos fazem querer sempre o que ficou lá atrás, mesmo quando o de agora esteja melhor, o que se pode afirmar ser o caso.
Estavam viajando para o interior, com o pequeno resmungando no banco de trás do carro, quando começou a tocar um rock qualquer dos anos 80, especialidade dela. Ele aumentou em dois ou três graus o volume e olhou disfarçadamente para o lado. Ela tirou o elástico que prendia seus longos cabelos castanhos, jogou-os para trás em um movimento brusco, enrolou-os com a mão direita e passou o elástico novamente. Ele deu um suspiro. Ela deu um maior e disse:
- Você nunca mais tocou bateria no volante do carro como fazia quando nos conhecemos, né? Eu achava tão bobo na época e agora tenho saudades.
Como dizíamos, são estranhas as coisas da vida, que nos fazem querer sempre o que ficou lá atrás. Continuaram a viagem em silêncio. Quer dizer, nem todos. O pequeno continuava resmungando. Já estavam chegando quando tocou outra música daqueles tempos de solteirice. Ela olhou para ele e reclamou:
- Lembra a primeira vez que nos encontramos? Você nem lembra que era esta música que estava tocando, e que eu estava junto com a Sandrinha chacoalhando os cabelos como uma louca.
Ao invés de responder, ele começou a batucar o volante.
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