A não ser que a chuva parasse, Martinha ficaria em casa curtindo a sessão da tarde. Ela odeia a chuva, não porque molha, mas porque tolhe. Gosta de movimento, de ter as mãos livres, de entrar e sair, e na chuva não dá. O fato é que seu enclausuramento não durou meia hora. Era algum Duro de Matar que passava, se não estou enganado o segundo, e ela tinha acabado de se esticar no sofá quando o celular tocou. Seu irmão Arnaldo a chamava de emergência, havia se envolvido em um acidente de automóvel. Martinha pegou a jaqueta, a sombrinha de bolinhas que quase nunca usa e saiu correndo. Arnaldo era bem mais novo, e como não tinham mais os pais, Martinha cuidava dele. Saiu se reclamando, pisando forte nas poças d´água até chegar ao seu carro, que estava estacionado uma quadra para baixo. Não tinha garagem onde morava. Martinha tinha um Fiat Oggi zerinho , com o qual ensinara Arnaldo a dirigir. Entrou no carro e saiu cantando os pneus. Ou eu imaginei assim, pois não tenho certeza se o Oggi cant
"A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la" Gabriel García Márquez