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Mostrando postagens de agosto, 2007

Martinha na Chuva ou o Gringo da Testa Cortada

A não ser que a chuva parasse, Martinha ficaria em casa curtindo a sessão da tarde. Ela odeia a chuva, não porque molha, mas porque tolhe. Gosta de movimento, de ter as mãos livres, de entrar e sair, e na chuva não dá. O fato é que seu enclausuramento não durou meia hora. Era algum Duro de Matar que passava, se não estou enganado o segundo, e ela tinha acabado de se esticar no sofá quando o celular tocou. Seu irmão Arnaldo a chamava de emergência, havia se envolvido em um acidente de automóvel. Martinha pegou a jaqueta, a sombrinha de bolinhas que quase nunca usa e saiu correndo. Arnaldo era bem mais novo, e como não tinham mais os pais, Martinha cuidava dele. Saiu se reclamando, pisando forte nas poças d´água até chegar ao seu carro, que estava estacionado uma quadra para baixo. Não tinha garagem onde morava. Martinha tinha um Fiat Oggi zerinho , com o qual ensinara Arnaldo a dirigir. Entrou no carro e saiu cantando os pneus. Ou eu imaginei assim, pois não tenho certeza se o Oggi cant

Pobre homem

Ele está perdido, completamente perdido. Coitado, o que foi que fizeram com ele. Deram-no a majestade, mas tiraram-no o reino. Pobre homem. Quem? Como assim, vocês o conhecem, não tenho dúvidas. Ele está por aí, é só ver. Pobre homem. Continua mandando, continua pomposo, ainda pede reverência e fala só, à mesa de almoço. Manda em tudo, mesmo tudo sendo quase nada. Perdeu o reino, mas ainda é rei. Pobre homem. Mais pobre de nós, pessoas com rei, sem reino e felizes.

A confusão entre o brabo e o chato

Gosto de ir a pé, especialmente com meus fones no ouvido. Dá a noção real de tempo e espaço, ou melhor, a noção tradicional de tempo e espaço, pois a real ainda não se sabe se existe. Como trabalho em um lugar isolado, quando estou na cidade saio andar pelas ruas. Outro dia saí pela vizinhança. Já ia longe quando começou a tocar no aparelhinho uma velha canção que eu havia escrito. Era uma das minhas melhores e me fez lembrar do tempo em que a escrevi. Outros tempos como diriam os melancólicos. Sou melancólico. Esta é a história desta música, ou o relato de como esta história virou música, ou qualquer coisa do tipo, que envolva a história e a música. Não acredito que se faça boa arte sem sofrimento. Talvez por isso minhas composições sempre foram medíocres, tive até aqui uma vida muito boa. Sem pai autoritário, mãe desequilibrada, irmão traficante, nada disso. Também nunca vivi grandes decepções amorosas. Desta forma, para conseguir compor, acabei criando um personagem sofrido, mal