Pular para o conteúdo principal

Fã Clube

Estou longe de ser um bom escritor, quanto mais um profissional, mas já tenho fã clube. Desde que resolvi publicar minhas crônicas em um blog, angariei uma multidão de três leitores sedentos por novidades. Minha esposa, minha sogra e meu irmão mais novo. Um deles até me ligou reclamando que há mais de quinze dias não escrevo nada. Parece que existe uma regra tácita no mundo virtual de que blog sem atualização, no mínimo quinzenal, deixa de ser lido. Ai não, vou perder minha legião de fãs! Preciso escrever mais.

Isto me lembra de quando decidi me aventurar no mundo das letras. No começo, achava que escrever bem era aprender a usar a crase e as vírgulas. Comprei até o “Manual de Redação e Estilo” do Estadão. Mas como na prática a teoria é outra, não adiantou nada, e continuei sem saber escrever. Depois achei que o ideal era ter um projeto maior, com objetivos que me obrigassem a praticar e me aprimorar. Decidi escrever um livro. Escolhi o tema, os personagens, quem eu iria entrevistar para o livro e cheguei até a escrever o capítulo final. Não deu certo por enquanto, quem sabe mais tarde. Finalmente descobri que escrever não é um projeto de engenharia, basta relaxar e deixar as bobagens que passaram desapercebidas na vida real crescerem sem controle na tela do computador. Vale até tentar imitar os seus ídolos. Se o Saramago faz autocrítica ao texto que está apresentando ao leitor no meio do próprio texto, por que não fazer algo parecido, por mais sem graça que fique? Se o grande Gabriel Garcia Márquez insiste que “a vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”, quem sou eu para contrariá-lo? Isto é o que significa escrever para mim, e pelo jeito tem funcionado, afinal, tenho três fãs que não largam do meu pé.
Na pior das hipóteses, por mais que eu nunca aprenda a escrever e que o livro nunca passe do parágrafo final (existe algum que passa?), é uma boa maneira de exorcizar alguns demônios e dar umas boas risadas. Imagine a fila na tarde de autógrafos.

Comentários

Anônimo disse…
hehehe
Muito bom... e não esqueça que pra ter mil fãs tem que começar com um.
Abrax.
Rica
Anônimo disse…
Concordo com o meu cunhado!
Posso dizer que sou sua fã número um LITERALMENTE!
Anônimo disse…
E aqui a terceira,para dizer que adoroooooo seus textos!! Para mim vc já é um grande escritor!

Postagens mais visitadas deste blog

Despertadores

Eu não sou exatamente um cara místico, que acredita muito em que tudo acontece por um motivo e tal. Ou pelo menos não era até ter meu filho e começar a me aproximar da meia idade. Agora, de verdade, meu velho ter perdido a hora no meu primeiro dia de aula em um novo colégio sempre fez meu ceticismo cair de joelhos, por assim dizer. Explico. Meu velho nunca perde a hora. Pelo contrário, a hora é que perde ele. Sempre agitado, ligadão, a mil por hora, quais eram as chances dele dormir demais no primeiro dia de aula de dois dos seus três filhos no colégio novo? Bom, alguma chance deveria ter, pois foi o que aconteceu. E esse pequeno deslize foi o que salvou a minha vida, sem exageros. Como cheguei atrasado, as carteiras próximas aos meus colegas do antigo colégio já estavam todas tomadas. Sobrou um lugar do outro lado da sala de aula, bem no meio de três figuras lendárias da cidade. Para um piá de prédio, patologicamente tímido, vindo de um colégio de filhinhos de papai, sentar no meio ...

Triathlon de Noel

Natal de 2010. Na verdade antevéspera de Natal, dia 23 de Dezembro. Faz 5 minutos que saí de uma reunião com um fornecedor crítico, que está quase parando a linha de produção de um de nossos clientes. Em mais 25 minutos entro em outra, com outro fornecedor crítico, que está quase parando a linha de produção de outro de nossos clientes. 2010 foi assim, basicamente uma corrida só, em três modalidades. Modalidade número 1, a já mencionada corrida atrás de peças para nossos clientes. Modalidade número 2, a emocionante corrida atrás do desenvolvimento pessoal. Já contei em outras ocasiões que todos os anos eu me isolo, por dois ou três dias, para fazer uma reflexão do ano que passou, das evoluções conquistadas e do que está por vir. Depois tenho o ano todo para dar os próximos passos. De fato dei muitos passos esse ano, mas sempre correndo contra o relógio. Clichê verdadeiro esse, como todos os clichês. E finalmente a melhor de todas. A modalidade número 3, corrida com revezamentos e ...

Sem Planos

Esses carros modernos, pensou Marta, são tão estáveis e silenciosos que você passa dos cento e quarenta sem nem sentir. Ela estava dirigindo para visitar seu filho na faculdade em Florianópolis. João Lucas fazia engenharia mecânica, estava no segundo período e ainda tinha na cabeça o vácuo corriqueiro que se forma em calouros: entre esvaziar o cérebro dos decorebas inúteis necessários para passar no vestibular e enchê-lo novamente com cálculos, fórmulas, gráficos e tabelas, um pouco menos inúteis, que a engenharia exige. Três horas e meia de estrada para encher a geladeira do ingrato, que dará um aceno blasé quando ela chegar de viagem e entrar no minúsculo apartamento que ele divide com outros dois cabeças-oca. Marta olhou para a tela do seu BYD. Faltavam apenas oitenta quilômetros para chegar, mas as notícias não eram nada animadoras: trinta quilômetros de engarrafamento à frente. Segundo o aplicativo de GPS, a causa seria um acidente grave que estaria bloqueando a estrada. Preparou-...