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Mostrando postagens de julho, 2007

O primeiro cacho de bananas

Seguindo os passos dos irmãos, quando tinha dezenove anos resolveu vir viver no Brasil. Desembarcou em Santos, no início do século passado, com poucas libras no bolso, menos ainda palavras em português no vocabulário, e uma vontade enorme de vencer na vida. Sua primeira aquisição, assim que desembarcou do navio, foi um cacho de bananas, que na Síria era artigo de luxo, e aqui estava a preço de tâmaras. É claro que depois de várias horas de trem, quando chegou ao seu destino final no interior do Paraná, as bananas estavam podres. Sua tristeza durou pouco quando descobriu que lá o preço era o mesmo. Apesar do sangue de mascate, veio de Homs como ourives, e ainda não sabia muito bem o que faria por estas paradas. Só tinha com ele algumas peças que havia confeccionado para trazer de presente e algumas receitas para quando a saudades apertasse. Encontrou seus irmãos assim que chegou na cidade. Já eram três da tarde, e todos ainda estavam sentados em volta da mesa, comendo halawet al-jubn d

Até Hoje

Eram mais ou menos cinco da manhã quando ela começou a melhorar. Eu não melhorei até hoje. Falávamos da vida, dos acasos, dos desastres, aquelas coisas de gente bêbada e imatura, que está se conhecendo e quer impressionar. Ela falava mais do que eu, como manda a etiqueta da conquista, até desmaiar, quando comecei a falar mais do que ela.Continua assim até hoje. Propus sairmos daquela confusão, que não estava nos fazendo bem. Eu lhe falei de um lugar onde nos sentiríamos no deserto. Sua gratidão me confortou. Partimos em silêncio. Não consigo lembrar o que aconteceu em seguida. Foram pelo menos umas seis horas de blackout. Ela diz que não transamos, mas eu tenho minhas dúvidas até hoje. Quando acordei não lembrava o seu nome e a chamei de minha princesa. Assim a chamo até hoje. Não sou muito de mudanças, se percebe. Fiquei obcecado por ela, por sua beleza estranha, seu jeito próprio de falar, como se as palavras não fossem ficar para sempre, e com seu cheiro de banho de antigame

Da gestação à digestão

Nunca vou esquecer do carneiro do Zeco. Quando meu irmão ainda era estudante de medicina e morávamos juntos em um pequeno apartamento na Desembargador Motta, eu acompanhava os estudos dele e de seus colegas madrugada adentro. Como prêmio de participação, eles me convidavam para os churrascos da turma. Ao contrário da maioria dos churrascos de turmas de universidade, os da turma do meu irmão não eram uma desculpa para beber, quer dizer, não só para beber. O ponto alto era quando tinha o carneiro do Zeco. Não era qualquer carneiro. Segundo o próprio Zeco, um garoto do interior do Paraná, que tinha vindo para estudar em Curitiba, como a maioria dos garotos do interior do Paraná com algum dinheiro, ele acompanhava a vida do carneiro da gestação à digestão. Conhecia os bichinhos pelo nome, sabia quem era o pai, quem era a mãe e quem eram os irmãos, geralmente os próximos da fila. Ele fazia questão de sacrificá-los com as próprias mãos. Achava que era uma questão de respeito. Limpava, cortav

Carta de Apresentação - Modelo Calheiros

Prezados senhores, sou engenheiro de formação e tenho muita experiência na indústria. Por favor encontrem em anexo o meu CV para qualquer vaga que vocês tenham disponível em sua empresa. Qualquer uma mesmo, não se acanhe. Não falo inglês, nem qualquer outra língua estrangeira, mas tenho certeza que posso aprender rapidamente. A questão é que eu tenho que sair daqui o quanto antes. Não dá mais. É sério, vocês que moram aí não têm como saber. E olha que eu sou patriota de cantar até o hino da bandeira, mas agora já deu. Minha empresa é ótima, meu salário é até muito bom, mas não faz diferença pois roubam um terço dele. Meu cargo é de liderança, mas eu posso abrir mão disto. O que quero é cair fora. Imediatamente. Por favor, não achem que eu sou maluco. Quer dizer, a responsabilidade é sua, se não me tirarem daqui eu vou acabar ficando. Não sou do tipo que desiste fácil, pois sou um dos últimos otimistas por aqui, mas até o mais otimista tem seus limites, que geralmente coincidem com o da