Sempre que tocava uma música boa, ele aumentava o volume na esperança de que ela soltasse os cabelos e os chacoalhasse como antigamente. Foi assim a primeira vez que a viu, com uma amiga, dançando ao som de uma banda qualquer que animava a festa. Nunca pedia, não que ela fosse se negar, mas não teria o mesmo efeito. São estranhas as coisas da vida, que nos fazem querer sempre o que ficou lá atrás, mesmo quando o de agora esteja melhor, o que se pode afirmar ser o caso. Estavam viajando para o interior, com o pequeno resmungando no banco de trás do carro, quando começou a tocar um rock qualquer dos anos 80, especialidade dela. Ele aumentou em dois ou três graus o volume e olhou disfarçadamente para o lado. Ela tirou o elástico que prendia seus longos cabelos castanhos, jogou-os para trás em um movimento brusco, enrolou-os com a mão direita e passou o elástico novamente. Ele deu um suspiro. Ela deu um maior e disse: - Você nunca mais tocou bateria no volante do carro como fazia quando n
"A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la" Gabriel García Márquez