Muitas bandas de rock que ousaram fazer diferente lançaram grandes discos. Algumas até viraram grandes bandas. A maioria delas misturando ao rock ingredientes de outros estilos musicais que aparentemente não teriam nenhuma relação com o som das guitarras distorcidas. Interessante, observando a evolução destas bandas, é que muitas têm uma trajetória muito parecida. Um primeiro disco bem rock´n´roll, com pitadas daquele que será o seu diferencial. Geralmente este primeiro álbum tem uma ou duas músicas que colocam a banda no mapa. Quase sempre grandes hits.
Na segunda investida, geralmente se percebe um amadurecimento. Algo como se o som do primeiro disco não fosse bom o suficiente para a banda e ela quisesse arrumar os erros do primeiro. Normalmente os elementos “diferenciadores” da banda aparecem com mais maturidade também. Mais presentes e mais sutis ao mesmo tempo. Geralmente os já convertidos fãs da banda não acreditam que possa haver disco melhor e o terceiro se torna um grande desafio.
Em alguns casos o terceiro álbum é o que coloca a banda ao lado dos gênios da música. Enfim o equilíbrio perfeito. Sem dúvida a banda perde alguns fãs, que continuam querendo mais do mesmo, no caso os hits pegajosos do primeiro disco. Neste ponto, estes fãs desistem de esperar, e os que evoluíram com a banda não conseguem acreditar como é que este álbum pode ser ainda melhor do que o anterior.
O quarto álbum é o álbum da virada. É quando o tempero vira o prato principal. Este é o grande teste da banda. Bandas realmente geniais têm aversão à repetição e às formulas já testadas, e por isso mesmo radicalizam naquilo que a princípio era apenas um diferencial. O grande risco neste ponto é o de perder a identidade. A banda atinge a excelência na mistura, no equilíbrio, no uso inteligente das referências. Se a banda esquece que a referência é apenas a cobertura da pizza, e que a massa é que a sustenta, tem grandes chances de estragar o jantar.
Tive essa sensação ao escutar o quarto álbum do Los Hermanos. É claro que foi apenas uma primeira impressão e, se me recordo bem, tive uma sensação parecida quando escutei pela primeira vez o álbum anterior, que hoje é um dos meus cinco álbuns preferidos de todos os tempos. Outra banda que se encaixa na descrição acima é o Radiohead que após o equilíbrio perfeito de OK Computer, exagerou na dose no sucessor Kid A. Não consigo tirar da minha cabeça a idéia de que a mídia elevou este álbum à categoria de obra prima muito mais por não saber o que falar do álbum do que por seus méritos musicais.
De qualquer forma, é muito mais nobre ousar ao exagero, do que se deixar enganar pela fórmula que vendeu bem. Talvez por este exato motivo, as bandas que citei estejam a anos luz da média.
O ensaio acabou. Eles estavam exaustos. O ventilador de mesa nunca dava conta de mantê-los sãos nos dias de verão. Nos intervalos, cigarros e tererês, enquanto o guitarrista brincava na bateria (amor antigo para o qual nunca se entregou, mas continuava paquerando). A casa era de madeira, do baterista obviamente. No quarto ao lado, dormia a recém-nascida. Em poucos dias gravariam o primeiro CD, na época em que gravar CDs era um grande feito. As músicas estavam no ponto, ou pelo menos era o que achavam até entrarem no estúdio. O estúdio também não tinha ar condicionado, a não ser na sala de gravação. Estavam todos ansiosos. Foram dois dias só para ajustar e gravar a bateria (só o guitarrista teve saco de acompanhar todo o processo). Duas semanas no total para finalizar a obra. Depois de muitos cigarros, cervejas, erros e stress, a bolachinha ficou pronta. A pior parte foi a mixagem. A pior parte é sempre a mixagem. É quando você tenta arrumar o que não tem conserto. ...
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