Adoro ver minha esposa se arrumando para festas. É como se fosse um desfile de modas particular. Existe todo um ritual que deve ser cumprido até começar o desfile, mas vale a pena.
Tudo começa com o banho. Ah, o banho! Às vezes acho que as mulheres tentam remover até as pintas de nascença no banho. Fico imaginando a cena. Ela segurando a pontinha da esponja, cheia de sabão, e esfregando compulsivamente a pinta pensa: “Droga, ainda não foi desta vez, mas um dia eu tiro esta porcaria daqui.”
Depois do banho vem a parte mais barulhenta da história. Secar o cabelo talvez seja a tarefa mais importante do processo para as mulheres. A relação delas com o secador é tão íntima que às vezes chega a dar ciúmes. Todas têm um apelido para o seu. Minha esposa chama o dela de “turbininha”, o que faz sentido pelo barulho infernal que sai dali.
Cabelo seco, escolhe-se a roupa. Não entendi direito ainda, mas parece haver umas três ou quatro etapas aqui, dependendo da pressa. Não vou nem tentar descrevê-las. É claro que direta ou indiretamente acabamos participando de todas. É aqui que está o maior segredo do casamento, saber quando elas querem realmente uma opinião, ou quando só querem confirmar a delas. E ouse não dominar este segredo! Vai dormir no sofá sem ter a menor idéia do porquê.
Quando, em um misto de sinceridade e desespero, você fala que elas já estão perfeitas, descobre que ainda falta a maquilagem, e depois as jóias e por último o perfume. Você nem lembra mais para onde estão indo. Já está embaixo das cobertas, procurando um filme na TV, e ainda tem que escutar: “Você não está pronto ainda?”
De qualquer forma, não existe desfile de modas melhor do que este. Além de toda a diversão, depois da festa você volta para casa e ainda dorme com a modelo.
O ensaio acabou. Eles estavam exaustos. O ventilador de mesa nunca dava conta de mantê-los sãos nos dias de verão. Nos intervalos, cigarros e tererês, enquanto o guitarrista brincava na bateria (amor antigo para o qual nunca se entregou, mas continuava paquerando). A casa era de madeira, do baterista obviamente. No quarto ao lado, dormia a recém-nascida. Em poucos dias gravariam o primeiro CD, na época em que gravar CDs era um grande feito. As músicas estavam no ponto, ou pelo menos era o que achavam até entrarem no estúdio. O estúdio também não tinha ar condicionado, a não ser na sala de gravação. Estavam todos ansiosos. Foram dois dias só para ajustar e gravar a bateria (só o guitarrista teve saco de acompanhar todo o processo). Duas semanas no total para finalizar a obra. Depois de muitos cigarros, cervejas, erros e stress, a bolachinha ficou pronta. A pior parte foi a mixagem. A pior parte é sempre a mixagem. É quando você tenta arrumar o que não tem conserto. ...
Comentários
O duro é ficar esperando na porta até "alguém" terminar de se arrumar...(!)
Te amo!