Pular para o conteúdo principal

Vale a primeira frase

“Tudo depende da primeira frase. Você tem que pensar primeiro no final da história, depois desenvolve o resto. Escreva a primeira versão com o coração, depois a revise com o cérebro. Crie uma rotina e escreva todos os dias, pelo menos uma frase por dia. Você deve criar um perfil detalhado de cada personagem, escrever um ensaio sobre cada um deles. Já tentou usar o mind map para criar a história? E o método Snow Flake?”
Se você, como é o meu caso, está na batalha para escrever seu primeiro livro, é inevitável topar com um ou mais dos conselhos acima. Para começar a história, se “tudo depende da primeira frase”, para que perder tempo com o resto? Faz a primeira frase e a publica. Pronto! O Millôr já sacou este lance há muito tempo. Outra, se “tudo depende da primeira frase” e você, teimoso que é, insiste em escrever o livro inteiro, por que preocupar-se com as outras dicas? A primeira frase já resolveu o negócio, o resto serve apenas para que o teu ego pare de te aporrinhar por uns dias e para contribuir com o desmatamento (caso te publiquem, é claro, o que a esta altura está ficando cada vez mais difícil).
Ah, os conselhos! Dizem que se fossem bons, ninguém os daria. Eu digo que se tivessem à venda, ninguém os compraria.
Mas tudo bem. No desespero, já tentei aplicar todos eles (menos esse negócio de Snow Flake, que para mim tem cheiro de culto religioso). Se não serviram para muita coisa, pelo menos me fizeram escrever mais ainda, o que para mim está ótimo.
O livro continua devagar. O blog, a julgar pela sua audiência, também. Mas a primeira frase está lá. E é ela que vale.

Comentários

Carlos Samways disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Samways disse…
No aguardo do livro!!

Postagens mais visitadas deste blog

Despertadores

Eu não sou exatamente um cara místico, que acredita muito em que tudo acontece por um motivo e tal. Ou pelo menos não era até ter meu filho e começar a me aproximar da meia idade. Agora, de verdade, meu velho ter perdido a hora no meu primeiro dia de aula em um novo colégio sempre fez meu ceticismo cair de joelhos, por assim dizer. Explico. Meu velho nunca perde a hora. Pelo contrário, a hora é que perde ele. Sempre agitado, ligadão, a mil por hora, quais eram as chances dele dormir demais no primeiro dia de aula de dois dos seus três filhos no colégio novo? Bom, alguma chance deveria ter, pois foi o que aconteceu. E esse pequeno deslize foi o que salvou a minha vida, sem exageros. Como cheguei atrasado, as carteiras próximas aos meus colegas do antigo colégio já estavam todas tomadas. Sobrou um lugar do outro lado da sala de aula, bem no meio de três figuras lendárias da cidade. Para um piá de prédio, patologicamente tímido, vindo de um colégio de filhinhos de papai, sentar no meio ...

Triathlon de Noel

Natal de 2010. Na verdade antevéspera de Natal, dia 23 de Dezembro. Faz 5 minutos que saí de uma reunião com um fornecedor crítico, que está quase parando a linha de produção de um de nossos clientes. Em mais 25 minutos entro em outra, com outro fornecedor crítico, que está quase parando a linha de produção de outro de nossos clientes. 2010 foi assim, basicamente uma corrida só, em três modalidades. Modalidade número 1, a já mencionada corrida atrás de peças para nossos clientes. Modalidade número 2, a emocionante corrida atrás do desenvolvimento pessoal. Já contei em outras ocasiões que todos os anos eu me isolo, por dois ou três dias, para fazer uma reflexão do ano que passou, das evoluções conquistadas e do que está por vir. Depois tenho o ano todo para dar os próximos passos. De fato dei muitos passos esse ano, mas sempre correndo contra o relógio. Clichê verdadeiro esse, como todos os clichês. E finalmente a melhor de todas. A modalidade número 3, corrida com revezamentos e ...

Nuke

Eu devia ter uns 12 anos quando o programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou um especial sobre as possíveis consequencias à população de uma guerra nuclear, à epoca iminente. Isso foi muito antes de eu abandonar de vez a Rede Globo, mas com certeza ajudou na decisão. Aquela cena me marcou muito, para não dizer aterrorizou profundamente. Talvez só a participação do Minotauro no sítio do pica-pau amarelo tenha chegado perto na categoria “vamos deixar essa criança sem dormir por uns dias”. E não estou usando da força de expressão aqui. De fato fiquei meses sem dormir direito. Com dois irmãos mais novos, todos dormindo no mesmo quarto, eu era o que tinha a cama perto da janela. A rua que passava ao lado do nosso quarto era de paralelepípedos. Todos os dias, perto das 11 da noite (madrugada para uma criança – sim, com 12 anos ainda éramos crianças então), o caminhão de lixo passava por ali, com aquele barulhão característico dos caminhões de lixo, amplificado pelo efeito trepidante dos p...