Ele está perdido, completamente perdido. Coitado, o que foi que fizeram com ele. Deram-no a majestade, mas tiraram-no o reino. Pobre homem. Quem? Como assim, vocês o conhecem, não tenho dúvidas. Ele está por aí, é só ver. Pobre homem. Continua mandando, continua pomposo, ainda pede reverência e fala só, à mesa de almoço. Manda em tudo, mesmo tudo sendo quase nada. Perdeu o reino, mas ainda é rei. Pobre homem. Mais pobre de nós, pessoas com rei, sem reino e felizes.
O ensaio acabou. Eles estavam exaustos. O ventilador de mesa nunca dava conta de mantê-los sãos nos dias de verão. Nos intervalos, cigarros e tererês, enquanto o guitarrista brincava na bateria (amor antigo para o qual nunca se entregou, mas continuava paquerando). A casa era de madeira, do baterista obviamente. No quarto ao lado, dormia a recém-nascida. Em poucos dias gravariam o primeiro CD, na época em que gravar CDs era um grande feito. As músicas estavam no ponto, ou pelo menos era o que achavam até entrarem no estúdio. O estúdio também não tinha ar condicionado, a não ser na sala de gravação. Estavam todos ansiosos. Foram dois dias só para ajustar e gravar a bateria (só o guitarrista teve saco de acompanhar todo o processo). Duas semanas no total para finalizar a obra. Depois de muitos cigarros, cervejas, erros e stress, a bolachinha ficou pronta. A pior parte foi a mixagem. A pior parte é sempre a mixagem. É quando você tenta arrumar o que não tem conserto. ...
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